José Renato Nalini
A segunda conclusão do relatório McKinsey sobre o resultado da Prova PISA de 2015 é no sentido de que alunos cuja educação é uma combinação de investigação própria e instrução orientada por professores obtêm melhores resultados.
A ênfase na gestão democrática, a tendência a se conferir “vez e voz” ao aluno, pode levar a uma negligente consideração a respeito da relevância fundamental do professor. Este continua a ser peça fundamental na educação de qualidade.
Pode-se afirmar que dois métodos coexistem na escola tradicional. O da instrução expositiva orientada pelo professor, que explica as ideias, faz com que a classe inteira as discuta, abre-se espaço para as indagações e o mestre as responde. O da instrução investigativa é aquela em que os alunos explicam suas ideias, realizam experimentos práticos em laboratório, discutem questões científicas e são solicitados a extrair conclusões a partir dos experimentos. O professor explica as ideias científicas que podem ser aplicadas e os alunos podem conceber seus próprios experimentos. Debatem-se em classe as investigações, o professor explica a relevância dos conceitos e os alunos são solicitados a investigar para testar ideias.
Aferiu o relatório que as notas do PISA são maiores quando os professores assumem a liderança. O segredo é que, para que o alunado tire proveito da investigação, ele não pode prescindir de boa base teórica. Por isso, o melhor é a interação entre os dois tipos de instrução. No mundo ideal há espaço para ambos. O ensino investigativo pode ser eficaz, mas apenas quando predomina a orientação expositiva oferecida pelo professor. Isto sugere que os professores têm de ter a capacidade de explicar claramente os conceitos científicos e que os alunos precisam dominar o conteúdo transmitido, para efetivo benefício do aprendizado investigativo.
O aprendizado investigativo só dará certo após o aluno haver assimilado a essência do conteúdo expositivo a cargo do professor. Não se pretende afirmar que o ensino expositivo seja imune a falhas. Existem lacunas de qualidade nas aulas prelecionais. Todavia, as lacunas são ainda maiores nas aulas baseadas em investigação. Isso porque, em regra, elas geram o caos, não existe viabilidade na adoção de regras observáveis por todos os partícipes, nem limites à participação. Alguns estudantes podem monopolizar o tempo disponível, enquanto outros permanecem ausentes ou inertes. Nem se consegue oferecer suporte heterogêneo a alunos com habilidades distintas.
Em síntese, os alunos não são capazes de avançar para métodos baseados na investigação, se não tiverem uma base sólida de conhecimento, que em regra se adquire mediante aprendizado orientado por professor. Já o ensino investigativo, muito mais desafiador, não pode prescindir de professor com treinamento e apoio adequado. Encontrar o equilíbrio certo é nossa lição de casa nesta quadra histórica.
Colaboração de: José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo