O rio manso vira cachoeira

0
406

Antônio Carlos Álvares da Silva

Quando eu pensei, que a onda de escândalos de corrupção, relatados pelos executivos da Odebrecht, em delações premiadas, estavam chegando ao fim, eis que outras delas surgiram relatadas, por executivos da JBS, a maior empresa brasileira. A JBS domina o mercado de carnes, aves e derivados. O início de seu crescimento começou com uma união, com a Friboi, que diziam as línguas ferinas, pertencia, em parte, aos filhos do Lula. Depois, fez uma fusão, com o grupo Bertim, sobre a qual corria o mesmo boato. Hoje, é um conglomerado de empresas atuantes nas mais diversas áreas. Um exemplo: Uma delas fabrica as sandálias havaianas. Em seguida, instalou diversas outras empresas no exterior. 56 delas nos Estados Unidos. Seu crescimento foi fabuloso. Em 2007, seu faturamento era de 4,4 bilhões de reais. Neste ano, o faturamento subiu para 170 bilhões (Estadão, 18-5-17, A-4). O combustível dessa ascensão foram empréstimos no Banco Estatal, BNDES, nas gestões de Lula e Dilma, que alcançaram o inacreditável total de 11,2 bilhões de reais. Sou um homem já antigo. Até uns 20 anos atrás, quando um banco emprestava um milhão de reais a uma empresa, o valor já chamava a atenção. Por isso, por mais, que eu tente, não tenho a menor ideia, do significado da quantia 11,2 bilhões. Especialmente porque foi emprestado a uma só empresa a juros subsidiados (taxa menor, que aquela, que o Banco tomou no mercado normal). Esses empréstimos concedidos nos governos Lula e Dilma ficaram ainda mais estranhos, quando recentemente, resolveu presentear Aécio Neves da oposição, doando a ele, 2 milhões de reais. Está certo, que essa doação foi feita, para armar um expediente sofisticado, no qual gravou a entrega desse dinheiro, para denunciá-lo imediatamente ao Ministério Público e à TV e jornais do Brasil. Está certo, que a JBS tentou disfarçar esse expediente, denunciando ter feito outras doações menores a outros políticos da base de Temer. Ato contínuo, executivos da JBS prestaram longos depoimentos na TV. Esclareceram, que beneficiaram 1.829 políticos de 28 siglas (Estadão, 20-5-17). Mas, já diz antigo ditado: “Na vida, a gente sempre sabe, como as coisas começam, mas, nunca sabe, como irão terminar”. Ficou estranho, a JBS conseguir empréstimos no valor de 11,2 bilhões dos governos Lula-Dilma. Depois, presenteia 1829 políticos, menos Lula e Dilma! O mistério durou pouco tempo. As investigações levaram os diretores a admitir, que sua empresa depositou na Suíça, em contas de Lula e Dilma, até 2014, 150 milhões de dólares – 500 milhões de reais – Conclusão: Perto desses 500 milhões, o que foi doado aos 1.829 políticos, é dinheiro de pinga. Você pode argumentar, que 500 milhões de reais são apenas 5% dos empréstimos à JBS. Mas, se você raciocinar: Se Lula e Dilma receberam 5% de todos os empréstimos feitos pelo BNDES, o recebimento vai virar um rio de dinheiro… Infelizmente, esse rio não corre para o bolso de nenhum de vocês. Aí, obriga a ironia: Quanto será que o comum dos petistas recebeu?

(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

Publicado na edição nº 10132, de 27, 28 e 29 de maio de 2017.