Quem entende – O jovem advogado tributário, José Mario Neves David, não foge da raia quando o assunto é o atual cenário político e opina sobre diferentes temas. (Gazeta)

O Oriente Médio é uma região marcada por profundas e complexas tramas políticas, religiosas e sociais, as quais frequentemente inserem a região no centro das atenções globais. Os conflitos recentes aumentaram o risco de uma guerra naquela região do planeta, especialmente considerando a histórica instabilidade local, as rivalidades entre Estados e a interferência de potências externas. Esses fatores interagem de maneiras que podem facilmente levar a uma escalada de tensões, transformando conflitos locais em crises internacionais de grandes proporções.

Por ser uma região rica em recursos naturais, especialmente petróleo e gás, o Oriente Médio é, do ponto de vista estratégico, extremamente importante para todo o mundo. Essa riqueza tem fomentado conflitos, tanto entre os países da região quanto em relação às potências estrangeiras. A divisão colonial após a Primeira Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi desmantelado e novas fronteiras foram traçadas por potências europeias, deixou um legado de disputas territoriais e étnicas que ainda persistem.

Além disso, a diversidade religiosa do Oriente Médio, onde o Islã é a religião predominante, embora visceralmente dividida entre sunitas e xiitas, agrava ainda mais as tensões. Países como a Arábia Saudita (sunita) e o Irã (xiita) têm disputado a hegemonia regional há décadas, apoiando facções rivais em conflitos como os da Síria e do Iêmen e fomentando os “conflitos por procuração”. Essa rivalidade sectária não apenas alimenta conflitos internos, mas também influencia a política externa desses países, exacerbando as tensões com outras nações.

A interferência de potências externas no Oriente Médio é um fator crucial que aumenta o risco de uma guerra na região. Os Estados Unidos da América, a Rússia e outras nações têm interesses estratégicos no Oriente Médio, muitas vezes associados à segurança energética e à contenção de influências adversárias. A presença militar estrangeira, como as bases americanas em países do Golfo Pérsico ou o apoio russo ao governo sírio de Bashar al-Assad, cria um ambiente onde pequenos incidentes possuem potencial para escalar rapidamente para grandes confrontos.

Além disso, o apoio dessas potências a diferentes grupos e governos locais contribui para a perpetuação dos conflitos. A venda de armas, por exemplo, não só fortalece regimes autoritários, mas também prolonga guerras civis e conflitos entre nações. Essa dinâmica cria um ciclo vicioso de violência, onde as partes envolvidas têm pouca motivação para negociar a paz, sabendo que possuem o apoio de grandes potências.

Outro fator crítico no risco de guerra no Oriente Médio é a questão de Israel e sua relação com os países vizinhos. Desde sua criação em 1948, Israel tem sido alvo de hostilidades por parte de vários Estados árabes. A questão palestina permanece sem solução, com décadas de negociações fracassadas e episódios de violência contínua. A recente normalização das relações entre Israel e alguns países árabes, como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, não reduziu completamente as tensões, especialmente com países como o Irã, que considera Israel um inimigo existencial. Nesse contexto, conflitos entre Israel e grupos como o Hezbollah, no Líbano, ou o Hamas, na Faixa de Gaza, são potencialmente explosivos. Qualquer confronto entre essas forças pode facilmente envolver outros países, levando a uma escalada que poderia culminar em uma guerra regional de larga escala.

Nesse sentido, o risco de uma guerra no Oriente Médio permanece alto devido a uma combinação de fatores históricos, geopolíticos, religiosos e sociais. As rivalidades entre Estados, a interferência de potências externas, a questão de Israel, a proliferação de armas e a presença de grupos extremistas são elementos que, juntos, criam um ambiente extremamente volátil. Embora esforços diplomáticos e negociações sejam realizados para evitar uma guerra, a complexidade da situação torna difícil prever com precisão quando e onde o próximo grande conflito pode surgir. O que é certo, contudo, é que a paz no Oriente Médio continuará a ser um dos desafios mais difíceis e urgentes da política internacional e da diplomacia.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado, conselheiro e consultor. Contato: [email protected]).

Publicado na edição 10.867, de sábado a terça-feira, 24 a 27 de agosto de 2024 – Ano 100