Os dois lados da balança

0
514

Recentemente a Organização Mundial da Saúde – OMS – apresentou uma notícia perturbadora sobre as crianças no mundo. Em estudo realizado entre os anos de 1990 e 2014 os números da obesidade infantil protagonizaram um aumento de cerca de 50%, disparando os principais alertas que endereçam à saúde pública.
São 41 milhões de crianças com menos de cinco anos acima do peso atualmente, sendo que metade delas está na Ásia e cerca de 25% na África. A América Latina, embora distante dos valores asiáticos e africanos, apresenta o percentual de 8% para essa faixa etária, ainda assim, acima dos 6,1% do padrão mundial.
Embora genéricos e usualmente candidatos a vilões dos problemas mundiais, a globalização e a urbanização são considerados pela OMS dois fatores que aproximam as crianças das comidas não saudáveis. Focando um pouco mais, a mesma OMS destaca como principal fator do cenário da obesidade, o marketing irrestrito para os refrigerantes e outras bebidas com altos teores de açúcar.

Evitando um desastre

O alerta da OMS não se restringe simplesmente a apresentar o problema. Trata das possíveis ações necessárias para mitigá-lo, por exemplo, enfatizando a responsabilidade dos governos no aumento dos impostos sobre as bebidas açucaradas e sobre a limitação da publicidade para os alimentos não saudáveis.
A OMS destaca também o envolvimento das escolas e da família no processo de minimização do consumo de calorias por dia. Quanto às escolas, a ideia é incentivar grades curriculares com maior incidência de atividades esportivas, evitando o sedentarismo das crianças. Ainda nesse mesmo passo escolar, deveriam ser definidos padrões mais restritos de alimentação fornecida pelas cantinas, fonte perene de altos índices calóricos.
Por fim, a família, e especialmente os pais, deveriam manter o foco na amamentação e em hábitos saudáveis de alimentação, com um cardápio variado e nutritivo.

O outro lado da balança

Em 2013, a organização não governamental Save the Children publicou uma pesquisa sobre os impactos que uma nutrição pobre teria sobre a evolução cognitiva das crianças, bem como sobre o desenvolvimento da economia da região em que vivem. Para tanto, foram realizados estudos com milhares de crianças de quatro países: Etiópia, Índia, Peru e Vietnam.
As conclusões não poderiam ser piores. Uma criança mal alimentada não consegue aprender. Sequer consegue ler corretamente uma frase simples de três ou quatro palavras, tampouco interpretá-la ou usá-la em situações do cotidiano. Essa situação negativa afeta uma em cada quatro crianças no mundo.
De acordo com a pesquisa, não importa muito a quantidade ou a qualidade de escolaridade oferecida para as crianças. Se receberem uma dieta nutricional fraca, vão apresentar uma evolução cognitiva diminuta que as marcará para o resto de suas vidas, isso se não morrerem nos primeiros mil dias de vida.
Estima-se também que o impacto global da má nutrição poderia chegar a US$125 bilhões.

O equilíbrio essencial

Em meio às atribulações da vida cotidiana na busca pela eterna felicidade estamos deixando que a saúde de nossas crianças se transforme em mera estatística. E pior, não estamos nos dando conta da situação.
Antes que ela de fato se transforme em página virada da história, precisamos ajudar a resolver essa equação do equilíbrio. Nós, como pais, professores ou apenas simples cidadãos temos que apoiar o movimento que impeça, ou no mínimo mitigue, a continuidade dos horrores da obesidade e da fome infantil. Se puder, visite o site www.savethechildren.com.

Publicado na edição nº 9959, de 10 e 11 de março de 2016.