Privilégios X prioridades

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Antonio Carlos Álvares da Silva

Quando escrevi meu último artigo, o assunto da hora era o impeachment da Dilma. Não escrevi sobre ele, porque a TV esgotou o tema, com comentários seguidos em vários programas diários. Hoje abordo um tema sequente, que ficou em foco. Trata-se da birra de grande parte da dita classe artística contra o afastamento da presidente. Na cabeça deles, para se projetar, o artista comum tem que ser diferente dos mortais em geral. Uma das maneiras encontradas, foi continuar petista, neste momento, em que o PT está em baixa e vem tentando mudar de assunto, no meio de denúncias de corrupção e da incompetência governamental. A forma foi destacar a extinção do Ministério da Cultura e sua incorporação ao Ministério da Educação. A mudança foi meramente nominal, já que todas as atribuições do ministério extinto continuavam sendo feitas pela Secretaria criada adjunta ao da Educação. Isso ficou patente em seguida. Diante da gritaria da classe artística em todo Brasil, Temer, político nato, não teve dúvida: Recriou o Ministério da Cultura, nomeado o mesmo secretário para dirigí-lo. O seis tinha virado meia dúzia e voltou a ser seis novamente. Tradução: A grande verba anual concedida ao ministério, tinha mudado de endereço e voltou ao antigo. A questão crucial continua a mesma: As grandes verbas destinadas ao ministério vão continuar? A pergunta é oportuna, porque o governo anterior aparelhou o ministério para apaniguados do PT e do PC do B. De toda verba chegada ao ministério, 82% são gastas internamente, com funcionários e administração. Para o objetivo principal, patrocínio de atividades de arte, sobram apenas 18%. Então, só uma minoria consegue recebê-la. Deve ser essa parte privilegiada, que está gritando. Há outra questão: Pode-se continuar falando em direitos da chamada classe artística, nessa quadra em que o Brasil tem mais de 11 milhões de desempregados? Onde fica o permanente discurso do PT de destinar verbas para organizar – não fazer – espetáculos e deixar a classe trabalhadora ainda pior? Será mesmo isso, que o PT defende em sua bandeira de luta de classes? É uma suprema ironia, a chamada classe artística ignorar o desmonte da Petrobrás, o fechamento de fábricas e empresas e a imensa crise econômica, para fazer a defesa de privilegiados, para uns poucos de seus membros incrustados em ministérios. Mais estranho ainda um grupo de seus membros ir ao festival de Cannes e deixar de promover o filme brasileiro concorrente, para protestar contra um “golpe” contra o governo do PT. Com esse comportamento, mesmo antes do julgamento do filme brasileiro, eles já deixaram patente, que seu filme não tinha futuro. Daí, resolveram promover eles mesmos e o PT. Fazer bons filmes fica para depois. Não é preciso pressa. No tempo do Anselmo Duarte e de Glauber Rocha, foram feitos bons filmes. Agora, com um ministério somente para eles vai ser uma moleza.
(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

Publicado na edição nº 9990, de 26 a 30 de maio de 2016.