Que pena do Genoino, só que não

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O esforço dos petistas em pagar a multa sofrida pelo ex-dirigente demonstra a falta de rumo dos militantes.

Fundado no início da década de 80, com apoio de movimento popular, sindicatos e parte da Igreja Católica ligada a Teologia da Libertação, o Partido dos Trabalhadores foi uma grande novidade para o cenário político. Conceitualmente, diferente das tradicionais agremiações políticas, onde as decisões eram tomadas apenas pela cúpula, os petistas se orgulhavam de decidir nas bases e obrigar a direção seguir o rumo traçado pela maioria.
Porém, com as derrotas nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, o PT foi cada vez assumindo os vícios de outros partidos. O que não causou surpresa, ao não ser tão diferente assim, ficou evidente ao assumir o poder com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, em 2002.
O ápice da deterioração ética do partido, todo mundo pensava ter sido durante o longo processo do Mensalão, desde a denúncia, até a condenação dos envolvidos, em 2013. Porém, esta recente mobilização dos militantes em angariar fundos para pagar a multa imposta pela Justiça contra o ex-presidente José Genoino, é indício do esfacelamento final dos ideais dos anos 80.
Assim como aconteceu no impeachment de Fernando Collor, onde os petistas foram protagonistas de denúncias e de CPIs, o Mensalão teve amplo espaço para explicações e defesas judiciais. É insanidade legal chamar o julgamento do Supremo Tribunal Federal de motivação política. Os ministros julgaram com base na Constituição Federal de 1988, assinada inclusive por alguns petistas condenados, na época, parlamentares constituintes.
Dá até para entender a solidariedade petista ao ver o antigo militante Genoino atrás das grades. Mas esta mobilização valia mais quando ele era integrante da Guerrilha do Araguaia, lutador contra a Ditadura Militar. Mas neste caso recente, ele foi condenado por ter participado de esquema fraudulento. Nem vale alegação de não ter se beneficiado diretamente, porque ao aceitar este argumento, pode-se então chamá-lo de omisso.
Não é preciso ser adivinho para prever a profunda decadência em que estará o PT, ao deixar a Presidência da República. Será um partido envelhecido, com quase nenhuma ligação com o movimento popular ou com os setores progressistas da Igreja Católica, dominado pela cúpula ou seja, igualzinho aos partidos tradicionais que tanto criticava. É o preço, que em todo mundo se paga ao abrir mão de princípios para alcançar o poder.

Publicado na edição nº 9646, dos dias 16 e 17 de janeiro de 2013.