Riscos geopolíticos em 2022

José Mário Neves David

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A consultoria Eurasia Group, uma das maiores e mais influentes casas de análises políticas do mundo, elencou, recentemente, em material distribuído aos clientes, os maiores e mais prementes riscos geopolíticos para o ano de 2022.

Os assuntos e temas apontados como potenciais riscos para o ano já iniciado abordam desde os mais óbvios, como a pandemia de Covid-19, até outros não tão nos holofotes, mas com potencial explosivo para as relações internacionais, como instabilidades políticas na Turquia.

Inicialmente, de acordo com a consultoria, um dos riscos a serem observados e monitorados ao longo deste ano diz respeito à forma como a pandemia está sendo tratada no mundo, seus efeitos e desafios. Na visão dos analistas, a Covid-19 e suas diferentes cepas devem enfrentar forte resistência nos países mais ricos e desenvolvidos, na medida em que o vírus esbarrará em populações com boa cobertura vacinal e tratamentos que previnem mortes de forma eficaz. Como destaque, aborda-se a questão da China, que, embora adote a política de “zero Covid”, deverá enfrentar variantes mais transmissíveis e vacinas marginalmente eficazes.

No quesito tecnologia, os conflitos entre as “Big Techs”, tais como Google, Facebook e Amazon, e os governos, especialmente o norte-americano, devem se intensificar ao longo do ano. Isto porque os esforços para maior regulamentação das mencionadas companhias devem aumentar, ao passo que as empresas de tecnologia devem enfrentar cada vez mais dificuldades para gerir e garantir a privacidade dos dados de seus usuários.

No campo da política, as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos devem intensificar a polarização daquele País, tendo como resultado a tomada do controle – maioria de cadeiras – pelos Republicanos na Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. Assim, políticas e programas propostos pelo governo Biden devem enfrentar maior resistência no Parlamento, com implicações sociais, econômicas e geopolíticas em todo o mundo.

Ainda na seara política, as medidas adotadas por Pequim aumentaram o risco de estagnação da economia chinesa, expondo a exaustão do modelo de crescimento de dois dígitos ao ano e os riscos inerentes ao rápido envelhecimento da população. Por sua vez, a beligerância crescente da Rússia fomentada pela aproximação do Ocidente às antigas repúblicas soviéticas tem gerado um risco crescente de conflitos armados no leste europeu, com participação de grandes potências econômicas e militares e com consequências imprevisíveis para o planeta.

Por sua vez, a escalada nuclear iraniana tem gerado fortes apreensões no Ocidente e no Oriente Médio, vez que há reais chances de um ataque preventivo israelense contra as estruturas nucleares do Irã, ataque este que poderia ser ou não acompanhado pelos Estados Unidos, o que gera apreensão e nervosismo na região, grande produtora de petróleo.

Especificamente quanto à Turquia, o aumento desenfreado do desemprego e da inflação naquele País concomitantemente à desvalorização cavalar da Lira Turca, pode desencadear a adoção de medidas populistas – as eleições presidenciais serão realizadas em 2023 – e o descontentamento generalizado da população, resultando em crise aguda em um dos países mais importantes da região Europa/Ásia.

Por fim, mas não menos importante, a Eurasia Group destaca outro risco sobre o qual devemos nos precaver em 2022: as metas de descarbonização de longo prazo, em grande medida bastante ousadas, estão colidindo com a necessidade de energia de curto prazo, o que gera dificuldades para o processo de transição energética e estimula pressões inflacionárias em insumos básicos, como o petróleo.

Como se observa, os riscos apontados pela consultoria são variados e, em certa medida, guardam relação entre si. É importante que tais riscos sejam acompanhados com atenção, assim como os desdobramentos destas questões, a fim de que eventuais consequências e crises desencadeadas por tais fatos e acontecimentos sejam oportunamente mitigados através da diplomacia.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e administrador de empresas. Contato: [email protected]).