Sobram sinais

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José Renato Nalini

A maior ameaça a recair sobre a humanidade nesta era é a mutação climática derivada do aquecimento global. Sobram sinais de que a natureza reage aos maus tratos e o faz conforme pode. Furacões, inundações, tsunamis, secas prolongadas, desaparecimento de espécies. Não faltaram alertas, mas a insensatez predomina.

Acabo de ler “A Era do Imprevisto”, de Sérgio Abranches, cujo subtítulo é “A grande transição do Século XXI” e o sociólogo da UNB é muito explícito em relação ao perigo que ronda a sobrevivência na Terra. Cita outro autor que também li, Jared Diamond, “que analisou o colapso ambiental de várias sociedades (e) deixa claro no subtítulo de seu livro que é uma questão de escolha: “Como as sociedades escolhem fracassar ou ter sucesso”.

Está claro que deixamos passar o momento ideal para reagir à insanidade de acabar com as florestas, de poluir atmosfera, solo e água e é importante deixar claro que “não haverá uma data fatal em que a mudança começará. Ela já está acontecendo. É um processo em curso e que pode acelerar seu ritmo de forma imprevisível, a qualquer momento. É provável que, daqui em diante, cada rodada do ciclo da transição climática torne o próximo mais provável. Até determinado grau de intensidade desses eventos, nós nos adaptamos, nos acostumamos, embora chocados, a experimentar frequentemente grandes tempestades, deslizamentos, ressacas mais violentas, secas mais prolongadas, ondas de calor e de frio”.

Tendemos a considerar tudo natural. “Mas, a partir de certo ponto, esses eventos extremos atingirão um grau de intensidade e recorrência que já não permitirão nossa adaptação, pelo menos no horizonte tecnológico que conhecemos. A anomalia se tornará patente e inegável. O maior perigo está na possibilidade de eventos disruptivos de larga escala, bruscos e inesperados, que alterem significativamente esse quadro de mudança lenta e continuada”.

O que nos aguarda? “Para os mais velhos, significa que seus filhos e netos sofrerão as consequências das escolhas que sua geração e a de seus pais e avós fizeram e continuam a fazer. Para os mais novos, sua própria vida será afetada por seus atos e os de seus antepassados. Para quem acredita no conhecimento como fonte de realização do potencial do ser humano, saber mais sobre o tamanho de nossa ignorância já constitui suficiente informação para a consciência aguda do risco que corremos”.

Por isso é que a educação ambiental e, mais do que ela, a ética ecológica, é urgência inadiável. Não é uma disciplina a mais na escolaridade formal. É uma preocupação emergente, que precisa ser levada a sério em todos os espaços, por todas as pessoas, durante todo o tempo.

O preço a ser pago é impossível: é aceitar que a humanidade escolheu encerrar suas atividades no planeta e desaparecer da face da Terra e, provavelmente, de todo o Universo. Não será mais do que uma página melancólica de uma História que não sabemos como vai terminar.

Colaboração de: José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo e docente da Uninove