
A vida corporativa demanda muito do nosso tempo. Todos os dias, somos chamados ao trabalho e pouco tempo sobra para as questões familiares, para o lazer, para o descanso. Errado? Talvez. O trabalho dignifica o homem e dá sentido à vida, mas dedicar tempo, atenção e energia para as pessoas queridas, para um hobby e para atividades que também nos dão prazer é fundamental. Peço licença para tratar sobre um tema que me dá prazer, o esporte.
Nos últimos tempos tenho dedicado mais tempo, ainda que não muito, para acompanhar o tênis, um esporte que gosto, que me conecta ao meu pai, que pratiquei muito no passado (o ombro ainda impede o retorno) e que hoje me reserva alguns momentos de prazer na frente da televisão ou nas quadras da região. Posso dizer que o tênis formou em parte o meu caráter, e por esse esporte tenho grande apreço.
Acompanhando o tênis, pude vivenciar o crescimento e desenvolvimento de jovens tenistas brasileiros e estrangeiros. Um deles, contudo, me chamou a atenção desde o início: João Fonseca, um tenista carioca de 18 anos e com muito talento. Seu foco, potência e agressividade sempre me chamaram a atenção, destacando um mental forte, uma determinação absurda para a vitória e uma técnica refinada. Um jogador bastante completo, mas que, claro, ainda é muito jovem e precisa amadurecer, profissional e pessoalmente. As conquistas, porém, são animadoras.
Em 2023, aos 17 anos, João conquistou o título juvenil do US Open, um dos quatro principais torneios do circuito, os “Grand Slams”, e assumiu a liderança do ranking mundial de tenistas juvenis. Vencer um título dessa envergadura e assumir o topo do ranking juvenil é um feito enorme para um brasileiro, dadas os poucos incentivos para o tênis no país. Ato contínuo, em 2024, João conquistou seu primeiro título de Challenger, em Lexington, nos Estados Unidos, um torneio oficial de menor porte do circuito da ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais. Há poucos dias, em Buenos Aires, Argentina, João adentrou no grupo dos grandes e conquistou seu primeiro título do circuito de profissionais da ATP, com uma vitória convincente sobre Francisco Cerúndolo – um tenista argentino, na casa dele.
Títulos menores ou iniciais para tenistas jovens e promissores como João não são garantia de um futuro brilhante no esporte. Muitos tiveram grandes conquistas no início da carreira e depois caíram no ostracismo por falta de resultados. Mas, João parece diferente. Seu estilo de jogo, o conteúdo de suas entrevistas, o foco no esporte, a sede por vitórias, tudo isso faz com que possamos acreditar que seu futuro no tênis é, de fato, promissor. Sem comparações com Guga, Meligeni, Belucci, Wild, Monteiro, Ferreira ou qualquer outro, há fortes indícios de que João Fonseca pode trilhar um caminho vitorioso no tênis profissional.
Essa expectativa, que deve ser devidamente trabalhada pelo atleta e pela torcida brasileira, é um alento para os fãs de tênis e, por que não, para os brasileiros, tão carentes de bons exemplos. Que João possa trilhar seu caminho, que não esmoreça diante dos desafios e das derrotas doloridas que certamente virão, e que nós, torcedores, brasileiros, fãs do esporte, tenhamos paciência com seu desenvolvimento pessoal e profissional. Em tempos de vidas corridas, muito trabalho e carência de ídolos, é um privilégio poder assistir o João jogar. Estamos na torcida.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado, conselheiro e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.908, sábado a sexta-feira, 8 a 14 de março de 2025 – Ano 100