
Marcos Pitta
Era dois de junho, nove horas da manhã. Eu e meus amigos brasileiros, companheiros de intercâmbio, estávamos aguardando para realizar o exame do CELU (Certificado de Espanhol: Língua e Uso), que avalia o domínio do idioma. Para os alunos de intercâmbio que não dominam o idioma do país a que se destinam, é necessário realizar o exame, que entrega certificação entre os níveis intermediário ou avançado. Esta exigência também é da Universidade Nacional de La Pampa para que nós, brasileiros, possamos estudar aqui.
Sou o primeiro a terminar a parte teórica do exame. Ansioso, espero a próxima etapa que é a prova oral, à tarde. Enquanto aguardo no corredor os demais brasileiros terminarem suas provas, na sala ao lado, pendurada na porta fechada, uma folha de sulfite com os dizeres: “português para adultos”. Fico curioso para saber o que se passa atrás daquela porta. Não demora muito até que uma mulher abra a porta e me reconhece. Ela se chama Gabriela, é professora de português na universidade e já havíamos nos encontrado antes. Ela me convida para entrar na sala e conhecer suas alunas que estão no curso há apenas dois meses.
Quando entro na sala de aula, uma surpresa. Todas as mulheres presentes têm mais de cinquenta anos e são atenciosas e esforçadas. Fazem perguntas referentes ao Brasil e sobre algumas curiosidades. Neste momento, registro em meus pensamentos, mais um bom momento de se fazer intercâmbio. Estar ali, na frente daquelas doze mulheres, foi a prova de que nunca é tarde para conquistar algum objetivo na vida.
A idade não é obstáculo para elas. Me lembro da professora dizendo que o curso havia iniciado há dois meses, mas elas me entendiam bem, e me respondiam em português muito bem, também. Foi encantador, experiência única. Muitos podem pensar que essas mulheres estivessem atrás de ocupar seus tempos, mas não foi isso que escutei. Elas têm vontade de conhecer o Brasil, provar da comida brasileira e dominar muito bem o idioma. Algumas relataram inclusive que pensam em fazer francês e italiano, depois do português. Para mim, esta troca de experiência não é novidade. Além desta, e da convivência na universidade, esse intercâmbio de culturas já havia me acontecido outras duas vezes.
A primeira foi quando cheguei na Argentina. Além dos outros três brasileiros que vivem comigo, recebemos em nosso apartamento uma mexicana e, por conta dela, nossas conversas dentro da casa sempre tiveram, e ainda têm, que ser em espanhol. Foram discussões sobre como dividir as atividades domésticas, os horários para cada um fazer sua comida, as divisões na hora da compra, entre outros assuntos, tudo em espanhol e, isso nos ajudou e, ainda ajuda muito, a praticar o idioma. A segunda, quando iniciamos o curso do CELU, além de nós, do Brasil, havia também alunos da Bélgica, Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e Alemanha. Vários idiomas diferentes e um único em comum, o espanhol.
É dupla a atenção a ser dispensada quando um companheiro apresenta seu trabalho, a mistura da língua materna com o espanhol apresenta-se em diferentes sotaques. E quando eu poderia imaginar que estando em intercâmbio na Argentina, faria trabalhos com alunos que falam inglês, francês e alemão, e ainda, estar à frente de doze mulheres com mais de cinquenta anos, completamente ativas e dispostas a aprender um outro idioma? Essa experiência não podia ser melhor. É um intercâmbio dentro do outro, é uma cultura dentro da outra. Tudo muito enriquecedor. A nota do CELU ainda não saiu, temos prazo de mais ou menos dois meses para obter o certificado. Isso, mais a loucura de estar em época de exames finais em outro país, é assunto para um próximo artigo.
O que é o CELU? – O Certificado de Espanhol: Língua e Uso é um certificado de domínio do espanhol como segundo idioma, para estrangeiros, cuja língua materna não seja o espanhol. O CELU é um exame reconhecido oficialmente e avaliado pelo Ministério da Educação e pelo Ministério de Relações Exteriores e Culto da República Argentina. Esta certificação abrange níveis internacionais, com acordos de bastante reconhecimento entre os governos do Brasil, China e Itália.
(Colaboração de Marcos Pitta, estudante de jornalismo no Imesb, em intercâmbio na Argentina)
Publicado na edição nº 10143, de 24, 25 e 26 de junho de 2017.