Antonio Carlos Álvares da Silva
Ao escrever artigos para a Gazeta, abordei vários assuntos. Algumas vezes, contei estórias do Bebedouro antigo, das décadas de 1940 e 1950. Nessa época a cidade era menor e a vida seguia outros padrões.
Na minha infância e juventude, Bebedouro tinha 30 mil habitantes, mas, somente 12 mil viviam na cidade. Os outros 18 mil residiam nas fazendas, em grupo de casas chamadas colônias. Os colonos dessas casas cuidavam de determinados números de pés de café, cultura predominante no município e recebiam em pagamento uma porcentagem da colheita da produção anual. Nessa época, o único meio de transporte inter-municipal era o trem. Dele se serviam pessoas e todas cargas. Não existiam estradas estaduais e o número de automóveis e caminhões era insignificante. Quase todo transporte para as fazendas e mesmo na cidade era feito por carroças, puxadas por um só animal e conduzidas pelo carroceiro. Nesse contexto, os carroceiros tinham um papel importante na vida da cidade. Tão, ou mais importante, que os atuais caminhoneiros. Muitas pessoas, hoje nome de ruas, são descendentes dos antigos carroceiros. Como a totalidade das pessoas e cargas transitavam pelos trens, eles chegavam e partiam em muitos horários, diariamente. Em razão disso a frente da estação vivia apinhada de carroças. Elas levavam pessoas, malas e cargas, para os mais diversos pontos do município. Geralmente, as pessoas eram transportadas por carroças especiais, chamadas “charretes”, nas quais havia lugar, para até 3 pessoas sentadas. Esse modo de transporte urbano chamava atenção, porque naquele tempo, as pessoas se vestiam com muito apuro, sempre gravata, paletó e chapéu. E tinham os sapatos impecavelmente engraxados. Os mais sofisticados usavam, como complemento da elegância, bengalas. O modelo era tipicamente europeu. Esse protótipo de elegância foi ridicularizada por Charles Chaplin, quando criou seu personagem mais conhecido: Carlitos. Era um mendigo vestido de paletó, gravata borboleta e chapéu coco, que andava rodando uma bengala. O comércio local oferecia artigos para esse padrão de vestir. Vendiam tecidos e sapatos. Os tecidos eram usados pelos alfaiates, para confecção de ternos (calça, colte e paletó). Os sapatos, mesmo os mais novos, eram constantemente engraxados. Para isso, a cidade tinha muitos engraxates ambulantes. Eles circulavam pela parte central da cidade, munidos por uma caixa, com suporte de apoio, para o pé, com todo o material necessário em seu interior.
Os bancos do jardim eram o complemento para o serviço. A maioria dos engraxates era de jovens adolescentes. A exceção, era um homem de mais de 40 anos. Chamava-se Jota Pepe. Tinha como característica estar sempre vestido de paletó e gravata. Com os sapatos zelosamente engraxados. Será, que meus leitores mais jovens conseguirão visualizar todos esses aspectos desaparecidos da antiga Bebedouro? Acho, que não vai ser fácil!
(Colaboração de Antonio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).