Usina de crises x fábrica de corrupção

José Renato Nalini

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Está faltando um pouco de compostura para as lideranças nacionais. Portam-se como crianças, que em outros tempos mereceriam palmadas, hoje proibidas em nome do “politicamente correto”.
Não que deixe de existir alguma razão nessa mediocridade incessantemente expelida por lábios que deveriam transmitir o relato de resultados obtidos, muito além de promessas, das quais o povo está cansado.
Em lugar de implementar medidas práticas de desburocratização, de ênfase nas reformas inadiáveis – Previdência, Tributária, Política, Pacto Federativo – o Planalto foca irrelevâncias. Fonte de atrito permanente.
O Parlamento, que deveria ser o mais importante dentre os poderes, na formatação clássica de Montesquieu, insiste na obstrução de pautas urgentes e imprescindíveis, num personalismo incompreensível.
Ambos precisariam de “puxão de orelhas”. O Brasil está numa gravíssima e séria crise. O desemprego não cede. A violência continua, a despeito de se comemorar uma ou outra redução nos índices. O desrespeito ao meio ambiente é aquilo que hoje impera. O lixo se amontoa nas cidades, os moradores de rua crescem, assim como as epidemias e doenças que já se consideravam extintas.
Fala-se muito em educação, mas não se enxerga algo que pudesse reverter essa caminhada rumo ao caos. Crianças que não sabem ler nem escrever. Não conseguem fazer as operações mais singelas da matemática. Se cada brasileiro alfabetizado se encarregasse de treinar os analfabetos funcionais que são abundantes, já seria um passo.
Se houvesse uma educação continuada e permanente, informal e factível pelo uso adequado das comunicações, não haveria a necessidade de dispêndio de bilhões com a coleta de resíduos sólidos, muitos deles aproveitáveis, nem as conurbações pareceriam lixões.
Aprofunda-se a distância entre quem tem demais e quem não tem o mínimo para sobreviver. E não se acaba com o Fundo Partidário, nem se reduzem as despesas para o funcionamento de uma estrutura governamental pesada, arcaica, onerosa e estéril.
Por isso é que, embora tosca, a disputa resumida no título acima parece ter sua razão de ser. E não se falou ainda do Sistema-Justiça…

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras 2019-2020).

 

Publicado na edição nº 10467, de 29 de fevereiro a 3 de março de 2020.