Vem aí o efeito bumerangue

José Renato Nalini

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O mundo civilizado despertou para as consequências da devastação ecológica, postura suicida que abreviará a conturbada experiência da vida humana neste planeta que não soubemos respeitar.
Por isso, declarações toscas e levianas, estímulo à intensificação de queimadas, liberação de licenciamentos sem o rigor necessário, desmanche de setores de fiscalização e outras valentias retóricas surtem efeito exatamente contrário ao pretendido.
Começou com os chefes do G7, liderados por Emmanuel Macron, tomando atitude em defesa da Amazônia. Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão e Estados Unidos concordam que o tema é de interesse universal.
Posteriormente, controladores de grupos de elevado investimento, responsáveis por trilhões de dólares, advertem que a preservação ambiental é algo que não pode ser negligenciado. Está em risco o tão esperado acordo entre Mercosul e União Europeia, se o Brasil não tomar juízo.
Israel enviou avião para ajudar a combater os incêndios. A Polícia Federal foi acionada para apurar o chamado “dia do fogo”, que foi uma ordem orquestrada e coletiva de uma “combustão geral”, principalmente no Pará. Isso foi possível porque houve drástica redução no número de fiscalizações ambientais na região, cujos dados alarmantes chegam a qualquer parte do mundo, graças à instantaneidade da comunicação contemporânea.
A sociedade civil precisa assumir a sua responsabilidade, como está explicitado na Constituição da República, artigo 225, o dispositivo considerado a mais bela norma fundante produzida no século 20. Lamentavelmente, mais uma proclamação redundante e vazia, pois o retrocesso na proteção ambiental é uma evidência do retrocesso em que estamos insertos.
O “efeito bumerangue” é algo de que o Brasil não poderá escapar, pois o mundo hoje é cada vez menor, cada vez menos interessado em ufanismo ou em declarações em torno a uma soberania cada vez mais relativizada. Tudo o que acontece em qualquer parte da Terra interessa a todas as demais. Não se vive isolado. Homem nenhum é uma ilha, país nenhum consegue se isolar. Principalmente se vier a adotar posturas que comprometam não só a saudável qualidade de vida, como sejam suscetíveis de provocar a extinção de qualquer forma de existência, a começar da humana. Precisamos de muito juízo, minha gente!

(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020).

 

Publicado na edição nº 10483, de 6 a 8 de maio de 2020.

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