Nos primeiros anos do século passado houve considerável aumento na demanda pela educação elementar no município de Bebedouro. Naquele período, a maioria vivia na área rural e embora existissem dezenas de escolas, estas eram apenas salas isoladas, sob a responsabilidade de um professor ou professora.
Conforme publicado no Anuário do Ensino do Estado de São Paulo do ano de 1909, havia em Bebedouro 3.214 crianças em idade escolar, mas somente 15,5% eram atendidas nas 26 escolas em funcionamento, sendo oito unidades estaduais, 13 municipais e cinco particulares, atendendo 386 alunos e 351 alunas, totalizando 737 matriculados.
Foi neste contexto que teve início um movimento de lideranças locais para a fundação de um Grupo Escolar, em prédio que fosse adequado para reunir as várias escolas isoladas, aumentando a oferta de vagas e a qualidade de ensino. Ainda em 1907, o intendente Dr. Manoel Colaço Brandão Veras apresentou à Câmara Municipal, o Projeto de Lei no. 134 para a compra de um terreno para a construção da escola, sendo aprovado.
No mesmo ano, por meio de escritura pública lavrada em cartório, a fábrica da Paróquia de São João Batista deu em aforamento perpétuo o terreno necessário à construção do Grupo Escolar, cujos recursos foram disponibilizados pelo Governo do Estado.
Desta forma, no final de 1910, ocorreu a aprovação da planta do prédio e da verba para a construção, no valor de 82:600$000. O edital para escolha da construtora foi publicado pela Secretaria de Obras Públicas do Estado em janeiro de 1911 e em março ocorreu a assinatura do contrato para início das obras, cuja finalização estava prevista para o segundo semestre do ano seguinte.
A planta do edifício é de autoria do engenheiro-arquiteto de origem belga José Van Humbeeck, responsável por cerca de 40 projetos de prédios escolares entre os anos de 1897 e 1914. De estilo arquitetônico eclético, o prédio apresenta fachada com frontão elevado, corpo central recuado e janelas verticais, com escadarias laterais, dez salas de aula e galpão de recreação com sanitários. No alto da fachada foi inserido o brasão da República do Brasil e nas laterais há a indicação das alas masculina e feminina, como era característico da época.
Embora exista a indicação do ano de 1912 na fachada do prédio, em decorrência dos atrasos nas obras, a instalação oficial ocorreu somente em 26 de abril de 1913, conforme publicado na edição do dia seguinte do “Jornal de Bebedouro”:
“Teve lugar hontem ao meio dia, a installação do nosso Grupo Escolar. Compareceram todos os professores com seus numerosos alumnos, que foram depois dispensados e dispersos. […] A falta d’água não permitte que ainda funccionem com regularidade as aulas, por essa razão não está ainda marcado o dia para a inauguração oficcial.”
A cerimônia foi conduzida pelo primeiro diretor, prof. Ludgero Prestes, que fora recentemente nomeado. No ato, foram reunidos os professores adjuntos que prestaram o compromisso exigido por lei, diante do dr. Spínola Castro, presidente da Câmara Municipal e Inspector Literário Municipal.
No primeiro ano de funcionamento, o Grupo tinha um total de 405 alunos, sendo 192 do sexo masculino e 213 do sexo feminino. O corpo docente era formado, na secção masculina, por Maria Pinto da Fonseca, Gustavo Kuhlmann, Fernando Vianna, Francisco Oliveira Algodoal e João Leite de Camargo. Na secção feminina, Luíza Oliveira Algodoal, Beatriz da Cunha Prestes, Clotilde Barroso Lintz, Pedrina Mendes Pinto e Maria Benedicta Fernandes.
No decorrer dos anos de 1913 e 1914, o grupo funcionou no prédio inacabado, havendo algumas interrupções de aulas para reparos. Em janeiro de 2015 o edifício ficou totalmente concluído e já estava consolidado como principal estabelecimento de ensino de Bebedouro, tendo alcançado o total de 681 matriculados naquele ano.
Em agosto de 1937, a escola passou a ser denominada “Grupo Escolar Abílio Manoel”, figura pública que teve significativa contribuição na implantação do ensino escolar no município e que falecera em 1921.
Nas décadas seguintes, outros grupos escolares foram criados em Bebedouro, inclusive nos distritos e povoados. Estes estabelecimentos escolares mantiveram esta denominação até meados da década de 1970, quando ocorreu uma reestruturação do ensino público e os grupos foram suprimidos, sendo substituídos pelas escolas de 1º grau.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.784, sábado a sexta-feira, 26 de agosto a 1º de setembro de 2023