A Igreja Católica e as transformações no espaço urbano e na vida social de Bebedouro

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Gradativamente o catolicismo foi marcando o cenário urbano e acompanhando o crescimento da cidade, com a construção de diversas capelas.

José Pedro Toniosso

Ao analisarmos a história do município de Bebedouro percebemos a impossibilidade de dissociá-la da força e da presença da Igreja Católica, cuja vitalidade é notória desde os momentos iniciais da localidade no final do século XIX, sendo possível identificarmos aspectos singulares de seu percurso junto à sociedade bebedourense.
Em suas origens, por exemplo, chama atenção o processo que resultou na mudança do padroeiro da cidade. Segundo os registros existentes, São Sebastião era o santo protetor de Bebedouro, a quem fora dedicada a primeira capela do município, construída no local da atual praça Nove de Julho. Em 1890, com a mobilização da comunidade da época, optou-se pela troca do patrono que, desde então, passou a ser São João Batista.
A partir do início do século XX, especialmente com a implantação dos trilhos da ferrovia em 1902, a cidade observou um significativo desenvolvimento, com inúmeras transformações na vida e no espaço urbano local, com a chegada de uma variada gama de pessoas de outras regiões, o que provocou uma crescente mudança nos costumes e valores locais. Este é o contexto em que a Igreja procurava consolidar sua presença, contando para isso com parcerias da sociedade em geral, inclusive do poder público.
A construção da atual Igreja Matriz fez parte deste esforço. Em 1900 fora inaugurada a antiga Matriz, uma edificação muito simples que, em decorrência do crescimento da cidade, logo se tornou pequena. No começo da década de 1910, com intensa mobilização da população, maciçamente católica, teve início a construção de um templo maior, mais adequado para os novos tempos e que passou a simbolizar a religiosidade bebedourense.
Nas décadas seguintes, a influência da Igreja se tornou cada vez mais ativa, especialmente com a chegada de religiosos de diversas congregações que vieram somar esforços pela expansão da fé cristã em outros espaços e segmentos de atuação. Neste contexto, merece destaque a vinda das Irmãs Passionistas que, desde 1929, com a inauguração do Asilo São Vicente de Paulo, desenvolvem um importante trabalho social em favor da terceira idade. Da mesma forma, ressalta-se o trabalho das Irmãs Dorotéias na direção do Colégio Anjo da Guarda que, inaugurado em 1931 como um centro de formação feminina, no decorrer de sua história passou a atender os mais diversos segmentos educacionais na perspectiva da educação cristã.
Pelo auspicioso trabalho que vinha desenvolvendo junto à comunidade bebedourense, em 1933 o Monsenhor foi convidado a assumir a administração da Santa Casa de Misericórdia, pois devido à série crise financeira que enfrentava, sofria a ameaça de ser fechada. O religioso não mediu esforços para reerguer a instituição, envolvendo todos os segmentos sociais para angariar recursos e transferindo a direção às Irmãs Passionistas que desenvolveram um incansável trabalho no hospital até sua venda ao atual grupo mantenedor.
Outro registro histórico que merece ser mencionado, já no final da década de 1940, refere-se à chegada em Bebedouro dos primeiros religiosos da Ordem Franciscana, primeiramente assumindo o comando da Paróquia de São João Batista, a qual estiveram a frente até 1978, e depois, na década de 1960, a inauguração do Educandário Santo Antônio, que desde então desenvolve um importante trabalho educacional, pastoral e social junto à população mais carente da cidade.
As últimas religiosas que vieram para Bebedouro foram as da Congregação das Irmãs Pobres de São Pedro Claver, para administrarem o Lar do Idoso Dr. Ricardo Dias de Toledo, substituídas no ano 2000 pelas Irmãs da Congregação das Servas do Senhor, que desde então dão continuidade ao trabalho social junto aos idosos de Bebedouro.
Gradativamente o catolicismo foi marcando o cenário urbano e acompanhando o crescimento da cidade, com a construção de diversas capelas, algumas mais antigas, como a de Santa Terezinha; Nossa Senhora de Fátima; São Benedito; Santo Antônio; Cristo Rei, outras mais recentes, como a de São Sebastião, Nossa Senhora das Graças, São José, Santo Expedito, além de inúmeras outras comunidades espalhadas pelos bairros, povoados e zona rural.
A criação de novas paróquias também são representativas das transformações ocorridas no espaço urbano e foram acompanhando a expansão territorial com o nascimento de numerosos bairros. Depois de sessenta anos de existência de somente uma paróquia, a de São João Batista, novas conjunturas viabilizaram o surgimento de outras paróquias: Nossa Senhora Aparecida (1960), Sagrado Coração de Jesus (1978), Santo Inácio de Loyola (1983), São Judas Tadeu (1995), São Pedro Claver (1997) e Santo Antônio Sant’Ana Galvão (1999).
No decorrer de todo este tempo, outras denominações religiosas surgiram e se consolidaram na cidade, conforme dados referentes ao último censo demográfico que foram divulgados recentemente. No entanto, a exposição destas breves considerações acerca da trajetória do catolicismo em Bebedouro permite-nos entender que esta vem sendo construída paralelamente à história da cidade e, consequentemente, tem sido de significativa contribuição no processo de organização do município.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, bebedourense mestre em história, professor universitário).

Publicado no Suplemento Especial de Final de Ano, edição nº 9639, dos dias 24 a 27 de dezembro de 2013.