Na década de 1920, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro promoveu processo de modernização interna que incluiu a reorganização do sistema administrativo, com criação de quatro divisões, sediadas nos municípios de Campinas, São Carlos, Bebedouro e Dois Córregos.
Em Bebedouro foi instalada a superintendência da 3ª Divisão Administrativa, que incluía a linha tronco no trecho de Rincão à Colômbia, no Rio Grande, via Passagem e Pitangueiras; a linha de Rincão a Bebedouro, via Jaboticabal, e de Passagem a Pontal e o ramal de Terra Roxa, com extensão total dos trilhos de 397 km.
Como sede da 3ª Divisão, conforme Sílvio C. Bray, ocorreu a construção de um grande prédio para abrigar os escritórios, localizado na antiga praça Altino Arantes, ao lado das escadarias e em frente à estação ferroviária. Foram construídas também novas oficinas de locomotivas, carros e vagões, além da ampliação dos armazéns e reforma da gare.
Com a ampliação das atividades ferroviárias, Bebedouro recebeu centenas de profissionais especializados, muitos remanejados de outras cidades atendidas pela Paulista. Havia funcionários administrativos, como engenheiros, chefes de setores, escriturários, advogados, inspetores e fiscais, ou de áreas técnicas, como eletricistas, mecânicos, torneiros, caldeireiros, maquinistas, manobradores, telegrafistas e outros.
O aumento do quadro de empregados levou a empresa a construir Vila Paulista, constituída por cerca de cem moradias, e que veio a ser o primeiro núcleo/bairro localizado além da região central.
Destaca-se também a substituição da bitola estreita (1,00 metro) pela larga (1,60 m) no trecho entre Rincão e Barretos, passando por Bebedouro; além do prolongamento dos trilhos até Colômbia, às margens do Rio Grande.
A inauguração das melhorias ocorreu no dia 30 de março de 1930, com uma extensa programação especial. As festividades tiveram início com a inauguração do prédio da sede administrativa, ato que contou com a presença do prefeito municipal, Antônio Alves de Toledo; presidente da Câmara, dr. Pedro da Silva Pereira; juiz de direito, dr. João Nogueira de Sá; promotor público, dr. José Marques Porto, e vereadores. Após percorrerem as instalações, os visitantes ouviram as palavras do superintendente da 3ª Divisão, dr. Jayme Blandy, e do promotor público.
Na sequência, todos se dirigiram à estação para às 8h30 recepcionarem o comboio noturno vindo da capital paulista, inaugurando oficialmente o trecho com a bitola larga. Conforme publicou a Gazeta de Bebedouro na edição de 6 de abril, “não tardou muito para ouvirmos o estridente apito da grande locomotiva, e, logo em seguida, vimo-la chegar triumphalmente à nossa estação, ouvindo-se, por essa occasião, o som enthusiástico de um dobrado então executado pela Banda Popular.”
A composição férrea era constituída de carros de primeira e segunda classe, pullman, restaurante, correio e breque, e permaneceu na gare até as 10h05, quando partiu para a estação de Mandembo e, sequencialmente, para Barretos.
No prosseguimento, às 12h, a Câmara Municipal ofereceu à diretoria e altos funcionários da Paulista um banquete de cinquenta talheres, “em testemunho de reconhecimento pelo muito que ella tem feito em prol do progresso local”, conforme publicou a imprensa local. O evento foi realizado no Hotel Rio Branco, ao som de orquestra regida pelo maestro Pedro Pellegrino, sendo que vários convidados fizeram o uso da palavra.
No período da tarde foram realizados dois jogos de futebol no estádio da Associação Atlética Internacional. À noite foi realizado um sarau dançante no salão do Esporte Clube Paulista e um ‘assustado’ (baile improvisado), no salão da Internacional.
A opulência das solenidades realizadas foi condizente com o contexto da época, quando a presença das empresas ferroviárias era de suma importância para o desenvolvimento local, assim como a participação dos seus funcionários em todos os aspectos da sociedade bebedourense.
No decorrer das décadas, as políticas públicas passaram a privilegiar o transporte rodoviário e como decorrência a estrutura ferroviária foi gradativamente abandonada. Atualmente a maior parte do patrimônio ferroviário segue em processo de deterioração, apagando as marcas de uma importante fase da nossa história.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.885, de sábado a terça-feira, 2 a 5 de novembro de 2024 – Ano 100