

Presente no território brasileiro antes da chegada dos portugueses, a mandioca vem a ser uma das principais contribuições dos povos indígenas à cultura nacional, tendo em vista que era um dos principais produtos que cultivavam. Após o início do processo de colonização, a mandioca tornou-se alimento comum a toda a sociedade brasileira.
No decorrer do tempo, mesmo com a priorização de produtos voltados para a exportação, como a cana-de-açúcar e o café, a mandioca nunca deixou de ser cultivada, considerando que a facilidade de adaptação a diferentes solos e climas, possibilitou que fosse produzida em todas as regiões, tanto nas propriedades rurais como nos quintais e terrenos existentes nas áreas urbanas.
Em Bebedouro, a mandioca já estava presente entre as lavouras de subsistência existentes no período inicial de formação do município, entre o final do século XIX e início do XX. Conforme registros na imprensa, na década de 1920 eram anunciados os produtos da fábrica pertencente a Jesuíno Alves Guimarães, localizada na rua Santa Firmina, atual rua Maria Pinto da Fonseca.
Em publicidade de junho de 1926 do Jornal de Bebedouro, o fabricante informava ao público consumidor que a legítima farinha de mandioca da marca Brasil, grossa e fina, só podia ser adquirida no armazém de Leopoldo de Godoy, no largo da Matriz, ou na própria fábrica.
No início da década seguinte, em decorrência da crise econômica iniciada em outubro de 1929 e que afetou diretamente a economia cafeeira vigente, a mandioca despontou como uma boa alternativa aos agricultores. Neste sentido, merece destaque a iniciativa do então prefeito municipal Antônio Alves de Toledo, que incentivou a criação de uma cooperativa dos plantadores de mandioca de Bebedouro.
Com este intuito, foi realizada a primeira reunião no paço municipal em abril de 1937, da qual participaram vários convidados, principalmente agricultores. No decorrer dos meses, ocorreram outras reuniões, visando definir os objetivos, regulamentos e estratégias, bem como alinhamento com o governo estadual, que também incentivava a expansão do cultivo, industrialização e comercialização daquele produto.
Finalmente, no início de abril de 1938 ocorreu a fundação preliminar da “Cooperativa dos Plantadores de Mandioca de Bebedouro”, sendo eleita a primeira diretoria, assim constituída: presidente, Alcindo Paoliello; secretário, João França Teixeira; tesoureiro, dr. José Leopoldo Uchôa. Membros do Conselho: Agoncilio Caldeira, José Silveira Campos, Joaquim Alves Guimarães e Francisco Ferreira de Medeiros.
Um dos fatores que favoreceram o aumento das áreas destinadas a esta cultura foi o crescimento do mercado interno, tendo em vista o crescente uso da raspa de mandioca na panificação, por conta da falta de farinha de trigo, que então dependia totalmente de importação.
Entre os principais produtores do município, destacou-se o alemão Otto Henrique Mahle, que em 1937 iniciou o cultivo em extensa área da Fazenda Retiro, implementando também a industrialização com a instalação de uma fábrica de raspas em sociedade com F. Magalhães Bastos. Inicialmente a firma localizava-se na rua 15 de Novembro, sendo transferida posteriormente para a rua 7 de Setembro.
Na década seguinte, outro que se destacou neste ramo foi o lavrador e industrial espanhol Ramon Peres, proprietário da Fábrica de Produtos de Mandioca Peres Ltda., que fornecia raspas para empresas de panificação e amido para engomação às indústrias de tecidos. A fábrica se localizava na área conhecida como Paiol, tendo funcionado até 1960, quando um incêndio destruiu as instalações. Posteriormente, no final de 1967, a área foi loteada e deu origem ao bairro Vila Maria.
De acordo com a publicação “Bebedouro, em Revista”, de 1949, entre as dezenas de empresas industriais de pequeno e médio portes existentes no município de Bebedouro, incluíam-se quatro fábricas de farinha de mandioca e três de raspas de mandioca, cuja produção era voltada para o mercado local e regional.
A partir da década seguinte, o foco dos produtores rurais do município passou a ser a citricultura, que gradativamente passou a ocupar a maior parte das áreas destinadas à lavoura. Apesar das mudanças, o cultivo da mandioca em Bebedouro se manteve, ocupando em 2022, o 8º lugar, com a produção de cerca de 640 toneladas.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.902, sábado a terça-feira, 8 a 11 de fevereiro de 2025 – Ano 100