“Bebedouro receberá amanhã, dia 13, às 9 horas da manhã, a visita honrosa do embaixador da amizade dos Estados Unidos, sr. Nelson Rockefeller, que acompanhado de luzida Comitiva, inaugurará a Empresa de Mecanização Agrícola, sediada nesta cidade, a qual vai prestar relevantes serviços à lavoura do Estado”. Esta foi a principal manchete de capa da edição de 12 de setembro de 1948 do jornal “A Vanguarda”.
Tratava-se, sem dúvidas, de uma notícia auspiciosa, tendo em vista a cidade ter sido incluída no longo roteiro de visitas que o magnata norte-americano planejara cumprir e que incluía diversos municípios do interior dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso.
No contexto da época, pós II Guerra Mundial e início da Guerra Fria, em sintonia com a política externa do presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, que incluía a promoção da “cooperação política, econômica, social e jurídica entre as repúblicas americanas”, Nelson Rockefeller organizou a IBEC – “International Basic Economy Corporation”, cujo objetivo era a modernização, racionalização da agricultura e aumento da produção agrícola de alimentos em países como Venezuela e Brasil.
Desta forma, promoveu a implantação no Brasil da subsidiária do IBEC denominada EMA – “Empresa de Mecanização Agrícola S.A.”, tendo vindo por cinco vezes ao país para visitar fazendas e canteiros de obras, estabelecendo contatos com autoridades, empresários e funcionários da empresa.
Em julho de 1948 foi anunciado que o município de Bebedouro fora escolhido para receber a primeira unidade da EMA, no contexto de retomada da implementação da citricultura. A proposta da empresa era utilizar máquinas e método modernos para aproveitar os espaços não utilizados pela citricultura para implantar uma pecuária mais rentável, além de introduzir uma agricultura produtiva de alimentos, como arroz, milho e feijão.
A chegada da comitiva da Missão Rockefeller em Bebedouro ocorreu no dia 14 de setembro de 1948, com a aterrisagem no campo de pouso da aeronave bimotor Douglas, da Panair. Ao contrário do que se esperava, Nelson Rockefeller não estava entre os visitantes, sendo representado pelos diretores do IBEC, Wallace D. Bradford, Berent Frisle, Francis Tamieson, Willian Alton e Ruffino Lomba.
As boas-vindas foram dadas pelo prefeito municipal Quito Stamato e pelo presidente da Câmara Agoncilo Caldeira; além de outras autoridades e empresários. Em seguida todos se dirigiram para as instalações do antigo e desativado Armazém Regulador do Instituto Brasileiro do Café, situado na atual avenida Pedro Paschoal, onde foi inaugurada a unidade local da Empresa de Mecanização Agrícola, cerimônia que esteve a cargo dos engenheiros Oscar Thompson e Carl Scheider.
Finalizado o ato inaugural, foi oferecido um coquetel aos visitantes da Missão Rockefeller na sede social do Bebedouro Clube, com a participação de representantes de entidades e associações de classe e outros convidados. Sequencialmente, a comitiva se dirigiu ao campo de pouso para dar continuidade ao roteiro, com destino à cidade de São Carlos. A fim de levar os cumprimentos dos bebedourenses a Nelson Rockefeller e demais membros da Missão, também embarcaram para São Carlos o prefeito Quito Stamato; o líder político Hamleto Stamato, e os técnicos da EMA, entre outros.
No início das operações, eram responsáveis pela unidade da EMA em Bebedouro os técnicos Oscar Thompson Filho, Carl A. Scheider, Juan Antônio Cox, Nelson Leon Roger e Humberto Levi Júnior. O local onde a EMA foi implantada contava com cerca de dez mil metros quadrados de área coberta, além de um grade terreno anexo, onde foi possível instalar os escritórios, almoxarifados, oficinas, depósitos e demais dependências.
A unidade pioneira da EMA em Bebedouro funcionou entre os anos de 1948 e 1958, atendendo mais de quarenta municípios da região com serviços como destoca, aração, gradeação, sulcamento, construção de barragens, estradas e terreiros para café. Com seu maquinário e o conhecimento técnico de seus funcionários (tratoristas, mecânicos, engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas) foi responsável por alavancar o setor agrícola nas áreas em que atuou, possibilitando a agricultores, pecuaristas e prefeituras a realização de obras que era inviáveis até então.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.832, de sexta a terça-feira, 29 de março a 2 de abril de 2024
