
20 de janeiro é Dia do Farmacêutico.
Como farmacêutico clínico, sinto-me profundamente inquieto ao perceber que nossa profissão, tão essencial para a saúde da população, não está plenamente alinhada às reais necessidades da sociedade brasileira. Vivemos em um país que enfrenta o envelhecimento populacional acelerado, tem altas taxas de doenças crônicas e um sistema de saúde que, muitas vezes, prioriza a reação às doenças em vez da prevenção e do cuidado integral. Apesar disso, a atuação do farmacêutico, especialmente na área clínica, ainda é subvalorizada e, pior, mal compreendida.
É frustrante ver como o potencial transformador da farmácia clínica não é explorado como poderia ser. Nosso conhecimento em farmacoterapia, prevenção de problemas relacionados a medicamentos e cuidado individualizado poderia ser resposta poderosa para muitas das lacunas do sistema de saúde. No entanto, a sociedade, os profissionais de saúde e até mesmo as políticas públicas ainda não reconhecem plenamente essa contribuição.
Enquanto dedicamos nossas vidas ao cuidado, à orientação e à busca por melhor qualidade de vida para nossos pacientes, frequentemente nos deparamos com um sistema que perpetua práticas antigas, negligenciando o papel do farmacêutico clínico como pilar central na promoção da saúde. Isso reflete não apenas a falta de investimento na nossa área, mas também visão limitada sobre o impacto que podemos ter na vida das pessoas.
Não consigo deixar de pensar no quanto nossa atuação poderia ser ampliada. Poderíamos evitar complicações em pacientes polimedicados, identificar problemas de saúde não tratados, integrar nossos serviços com outras áreas da saúde, como nutrição e fisioterapia, e promover cuidado preventivo e humanizado. Mas, ao invés disso, enfrentamos barreiras que vão desde a falta de reconhecimento da população até o desinteresse de muitos gestores e autoridades em incorporar a farmácia clínica como parte integral do sistema de saúde.
Minha inquietação não é apenas profissional; ela é também pessoal. É doloroso assistir ao sofrimento de pacientes que poderiam receber cuidado mais eficaz e humano. É angustiante ver profissionais tão capacitados sendo subutilizados, enquanto a sociedade brasileira paga o preço por um modelo de saúde fragmentado e reativo.
Sigo acreditando no papel transformador do farmacêutico clínico e lutando para que nossa profissão receba o devido espaço e reconhecimento. Essa luta é não apenas por nós, farmacêuticos, mas por uma sociedade que merece um sistema de saúde mais eficiente, integrado e que realmente cuide de sua população. O Brasil precisa de uma farmácia que cuide, inove, seja próxima, e não desistirei de trabalhar por isso.
Farmácia não é um simples ponto de venda de medicamentos. E farmacêutico não é apenas dispensador de medicamentos.
(Colaboração de Luiz Assunção, farmacêutico e bioquímico).
Publicado na edição 10.899, de sábado a terça-feira, 25 a 28 de janeiro de 2025 – Ano 100