A excursão do Peñarol Universitário, do Uruguay, em Bebedouro

José Pedro Toniosso

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Equipe do Peñarol Universitário em 1928. Em pé, uniformizados, Fierro, Dominguez, Nario, Sosa, Oddo e Carbone. Agachados: Celsi, Do Campo, Cambón, Hernandez, Armiñana e Sposito. (Em negrito, os nomes dos jogadores que permaneceram em Bebedouro). Foto: Revista O Malho, de 15 de setembro de 1928. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Em 1928 uma notícia alvissareira repercutiu entre os bebedourenses: pela primeira vez a cidade receberia uma equipe de futebol de outro país, o Peñarol Universitário, de Montevideo, capital do Uruguai.

Na época o futebol ainda era amador, estava iniciando processo de profissionalização, o que se consolidaria somente no início da década seguinte. No entanto, a Associação Atlética Internacional despontava como um dos principais clubes do interior paulista e foi incluído entre aqueles que receberiam a visita do time uruguaio.

O Club Peñarol Universitário era formado por um grupo de jogadores de diversos clubes uruguaios e apesar do nome, poucos eram universitários. Tampouco havia qualquer relação com o homônimo “Club Atlético Penãrol”, equipe uruguaia aurinegra que já adquirira fama no mundo futebolístico.

No final do mês de abril daquele ano, a equipe do Peñarol Universitário desembarcou no porto de Santos e seguiu para a capital paulista, onde ocorreu o primeiro jogo, contra a equipe do então denominado Palestra Itália (atual Palmeiras), cujo placar final foi de 2 x 2. No segundo jogo, contra o Corinthians, o time uruguaio conseguiu uma vitória com o placar de 2 x 1.

Sequencialmente o Peñarol iniciou uma extensa excursão por cidades do interior paulista e mineiro, incluindo as cidades de Santos, Campinas, Amparo, Guaxupé, Uberaba, Uberabinha (atual Uberlândia), Ribeirão Preto, Araraquara, São José do Rio Preto, Barretos, Taquaritinga, Bebedouro, Monte Azul, Olímpia, Piracicaba e Rio Claro. A jornada do clube uruguaio foi finalizada em setembro no Rio de Janeiro, então capital federal, contra as equipes do Flamengo e América, entre outros.

Bebedouro foi a cidade em que a equipe do Peñarol permaneceu por mais tempo, totalizando 16 dias, quando foram realizadas três partidas contra o time da Internacional, nos dias 26 e 29 de julho e 5 de agosto.

Na véspera do primeiro jogo, o jornal Diário de Bebedouro publicou uma matéria com muitas loas aos visitantes: “Finalmente amanhã, os nossos esportistas terão a oportunidade de presenciar o primeiro encontro internacional de futebol, travado em Bebedouro. O Internacional enfrentará o possante conjunto do Peñarol Universitário composto de renomados jogadores da vizinha República, perfeitos conhecedores do futebol e dotados de impecável técnica. Será esse o torneio mais sensacional do ano e, decerto, difícil para o nosso quadro, pois o elenco uruguaio compõe-se de jogadores dotados de enorme força de vontade e grande fôlego”.

Os resultados das partidas não foram favoráveis para a equipe bebedourense, derrotada nos três jogos com o placar de 2 x 1; 1 x 0; e 1 x 0. Entretanto estes jogos entraram para a história da Internacional, pois foi uma experiência inédita de jogar com um clube de outro país.

Os jogadores da Internacional que entraram em campo nos referidos jogos foram Ananias, Casaverde, De Vito, Clito, Ratz, Moura, Gambinha, João, Turqueto, Tricanico, Nelson, Fioravante, Belinni, Cassillas e Crispim.

Quanto ao Penãrol, disputaram contra a equipe local os jogadores Sposito, Dominguez, Oddo, Armiñana, Carbone, Cambón, Celsi, Sosa, Fierro, Do Campo, Lerena, Nario e Hernandez.

A acolhida dos bebedourenses à comissão uruguaia, incluindo técnicos e jogadores, foi expressa em depoimento do presidente da delegação, Pedro Belhot, publicado no Diário de Bebedouro:

“Em Bebedouro, os 16 dias foram assinalados por igual número de festas realizadas, em nossa honra. Visitamos cerca de 15 fazendas, além de que foram oferecidos outros passeios, bailes e banquetes. À certa altura, foi tão insistente a gentileza dos bebedourenses, que nos víamos obrigados a tomar o rumo do campo, tão depressa o dia amanhecesse. Além do mais, foi em Bebedouro que encontramos a mais forte equipe do interior – a do Internacional – tão peritos os futebolistas que a compõem, quanto gentis, extremamente cavalheirescos todos os seus dirigentes”. 

Estas considerações certamente foram sinceras, pois, na ocasião, enquanto a delegação uruguaia voltava para o país natal, três dos seus jogadores, Do Campo, Armiñana e Cambon, decidiram ficar em Bebedouro, e jogar no time da Internacional, tornando-se assim os primeiros jogadores ‘profissionais’ do clube, por serem remunerados numa época em que o futebol ainda era amador.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.

www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.899, de sábado a terça-feira, 25 a 28 de janeiro de 2025 – Ano 100