

Nos últimos anos, o papel do farmacêutico na sociedade mudou drasticamente. Se antes esse profissional era visto como referência confiável para o uso seguro e eficaz dos medicamentos, hoje muitos pacientes sequer sabem que podem contar com ele para muito mais do que simplesmente retirar uma receita de medicamentos na farmácia. Esta perda de referência não foi apenas uma mudança de percepção – ela teve consequências profundas na saúde da população.
O que aconteceu com o papel do farmacêutico?
Houve um tempo em que o farmacêutico era a primeira opção para quem precisava de orientação sobre medicamentos. Seu conhecimento técnico e sua proximidade com os pacientes permitiam um acompanhamento mais cuidadoso, evitando problemas como automedicação perigosa, interações medicamentosas e uso inadequado de fármacos.
Com a transformação do modelo de farmácia e a crescente burocratização do setor, esse profissional foi sendo deslocado para funções administrativas e afastado do contato direto com a população. O impacto disso? Um sistema de saúde onde as pessoas estão cada vez mais suscetíveis a erros de medicação, falta de adesão ao tratamento e agravamento de doenças crônicas.
Impacto da perda da referência farmacêutica e automedicação crescente
Sem o farmacêutico como referência, as pessoas passaram a se automedicar sem qualquer critério, aumentando os riscos de intoxicação, resistência antimicrobiana e falhas terapêuticas.
A poli farmácia sem controle
O uso simultâneo de vários medicamentos sem acompanhamento clínico adequado levam ao aumento expressivo de efeitos adversos e hospitalizações evitáveis.
Impactos de medicamentos sem correções
Muitos medicamentos afetam o metabolismo, hormônios e neurotransmissores, muito além do efeito esperado, o que poderia ser antecipado e gerenciado com acompanhamento farmacoterapêutico adequado.
Fragmentação do cuidado em saúde
Ao perder o farmacêutico como referência, o paciente fica sem um profissional especializado no ajuste fino da farmacoterapia, tornando o tratamento menos seguro e eficiente.
Educação para uso racional de medicamentos
Sem acesso a informações qualificadas, o paciente usa medicamentos de forma errada, comprometendo sua saúde no longo prazo. O conhecimento técnico do farmacêutico precisa ser compartilhado de forma acessível, para que as pessoas saibam que podem contar com ele para muito mais do que a simples dispensação de medicamentos.
Resgatando a referência do farmacêutico
O farmacêutico precisa se posicionar como especialista na segurança medicamentosa, atuando ativamente no acompanhamento de pacientes, seja na farmácia, no consultório ou em hospitais, reforçando seu papel clínico.
Atuando na prevenção e na personalização do tratamento, o futuro da farmacoterapia está na individualização do tratamento, seja pela farmacogenética, metabolômica ou pela integração com exames laboratoriais.
Estar presente na saúde do idoso reforça a cultura gerontológica associada ao acompanhamento farmacoterapêutico. Com o envelhecimento populacional, o farmacêutico tem papel fundamental na otimização dos tratamentos e na prevenção de eventos adversos em pacientes poli medicados.
Portanto, a ausência do farmacêutico como referência na sociedade trouxe impactos negativos que vão desde o uso inadequado de medicamentos até o aumento de complicações de saúde evitáveis. Precisamos resgatar o protagonismo desse profissional dentro do sistema de saúde.
O futuro da saúde passa pela valorização do conhecimento e pela segurança no uso dos medicamentos.
Agora me conta, você tem um farmacêutico como referência?
(Colaboração de Luiz Assunção, farmacêutico e bioquímico).
Publicado na edição 10.903, quarta, quinta e sexta-feira, 12, 13 e 14 de fevereiro de 2025 – Ano 100