Na manhã de 9 de julho de 1932 teve início na cidade de São Paulo, o movimento armado que pretendia devolver o comando político aos paulistas, fragilizados pela Revolução de 1930, que levara Getúlio Vargas à presidência. Desta forma, os revoltosos exigiam a convocação de eleições e a promulgação de uma nova Constituição, conforme fora prometido por ele em sua campanha eleitoral.
De fato, os protestos já ocorriam nas ruas e praças da capital, tendo culminado com a morte de quatro jovens estudantes por tropas getulistas no dia 23 de maio, o que resultou na formação de uma organização paramilitar que adotou como nome as iniciais das quatro vítimas – MMDC, de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.
A notícia sobre a deflagração do levante logo chegou a Bebedouro, fazendo com que a população se dirigisse ao centro da cidade buscando por mais informações, que chegavam sucessivamente pelas emissoras de rádio da capital e pelo telégrafo. Às 19 horas do mesmo 9 de julho foi realizado um grande comício em frente ao “Nosso Clube”, com a presença de numeroso público. Todos os oradores procuraram ressaltar o glorioso passado paulista, enaltecendo o espírito bandeirante e a necessidade de os bebedourenses contribuírem com esta causa das mais variadas formas, inclusive nas frentes de batalha.
Neste sentido, na tarde do dia 11 de julho seguiram para a capital os primeiros jovens voluntários bebedourenses, aos quais se somaram outros vindos de cidades vizinhas. A partida do trem na Estação da Cia. Paulista foi acompanhada por grande massa popular, principalmente dos familiares daqueles que iam compor as tropas.
Nos dias seguintes, o que se viu foi uma grande mudança na rotina tranquila da cidade. A Prefeitura Municipal, então sob o governo de Benvindo de Oliveira, elaborou uma tabela para regular os preços dos gêneros de primeira necessidade, bem como um levantamento sobre os estoques destes produtos nos estabelecimentos locais.
Houve também a criação da “Guarda Regional de Bebedouro”, com o objetivo de assegurar a ordem na cidade e de prestar assistência às famílias dos voluntários que haviam seguido para as trincheiras. Foram formadas várias comissões, inclusive em Andes e Botafogo, para o recolhimento de dinheiro, muares, bovinos, galináceos, gêneros alimentícios e outros produtos.
O professorado das escolas primárias foi incumbido de confeccionar fardamentos, enquanto alunas e professoras do Colégio Anjo da Guarda produziam agasalhos de lã para os soldados que estavam no front. Nas igrejas, católicas e evangélicas, intensificaram-se as orações pela paz.
Na imprensa, era publicada uma chamada do Delegado de Polícia, Dr. Francisco de Paula Queiróz, dirigida aos jovens bebedourenses: ‘[…] Homens válidos de Bebedouro, aliste-vos! Às concentrações por São Paulo! Às fileiras por São Paulo e pelo Brasil! Atendei aos brados do Ypiranga!”.
No decorrer dos meses em que ocorreu a revolta, os alistamentos tiveram continuidade, com elevado número de voluntários, inclusive os da Legião Negra de Bebedouro, não havendo nenhum registro de vítima fatal entre os soldados bebedourenses.
Em meados do mês de agosto seria lançada a “Campanha do Ouro”, que teve intensa participação da população local, conseguindo angariar cerca de 40:000$000 (quarenta contos de reis) em ouro e objetos preciosos.
Apesar do permanente clima de vitória que transparecia nas matérias publicadas na imprensa, era iminente a derrota das tropas paulistas, diante da falta de apoio dos demais estados e do isolamento promovido pelas forças oficiais. Com isso, em 2 de outubro de 1932 houve a assinatura da rendição paulista e como desdobramento do movimento, houve a convocação de eleições gerais em 1933 e a formação da Assembleia Constituinte, que resultou na promulgação de uma nova Constituição.
No Estado de São Paulo o 9 de julho passou a simbolizar um momento histórico de luta por valores e princípios democráticos, sendo um feriado civil instituído por lei estadual em 1997. Em Bebedouro, a memória daqueles que participaram do conflito se faz presente por meio do nome dado à praça Nove de Julho, e pelo obelisco junto à Concha Acústica na praça Barão do Rio Branco, no qual se lê na placa comemorativa “Aos heróis da epopeia de 32, que defenderam o ideal constitucionalista, as homenagens de Bebedouro!”
Publicado na edição 10.681, sábado a terça, 9 a 12 de julho de 2022.