Aborto, uma realidade escondida

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Longe dos debates teológicos, no cotidiano, os partos são interrompidos.

A manchete da edição de final de semana da Gazeta trouxe luz a um assunto incômodo para toda a sociedade bebedourense. Enquanto acontecem debates acalorados contra ou a favor do aborto, entre feministas e religiosos, nos prontos-socorros deste país afora, todos os dias, acontecem curetagens. Em Bebedouro é praticamente toda semana.
Mesmo que suprimidos os casos dos abortos espontâneos, quando as condições de saúde impediram a gestação dos 45 casos registrados em 2013, parte são de abortos provocados. O número é impressionante e triste.
É bom ressaltar que a reportagem baseia-se em dados oficiais, o que deixa de lado, os casos clandestinos, que usam remédios contrabandeados ou vendidos sem receita médica.
Com medo da repressão familiar, abandonadas pelos namorados, de noite, no escuro de seus quartos, meninas contorcem-se segurando o choro para não denunciar o ato. Para o sangue é usada a desculpa da menstruação há meses atrasada, mas as mães, atarefadas com os cuidados da casa e do trabalho, nem percebem este detalhe.
O pior é entrevistar uma adolescente de 14 anos, grávida de cinco meses, e ouvir dela que não engravidou por descuido, mas por convicção – “eu quis”.
Esta realidade não é surpresa para o leitor atento da Gazeta, que leu o Gente com a líder da Pastoral da Criança, e da Vila Santa Terezinha, Aurora Nobre. Há uma epidemia de gravidez precoce, não planejada e depois rejeitada. É lindo recordar a tentativa dela de convencer meninas a não abortarem. Uma mulher que faz isto não por convicções ideológicas ou religiosas, mas pela experiência de mãe e avó. Ela diz “deixe a criança nascer, porque só Deus sabe o que representará esta criança para o mundo”.

Publicado na edição nº 9595, dos dias 10 e 11 de setembro de 2013.