Antônio Carlos Álvares da Silva
O destaque da semana foi o novo massacre de estudantes americanos. Esses assassinatos não são novidade nos Estados Unidos. O choque foi maior, porque a maioria das vítimas – 20 delas – tinha entre 6 e 7 anos. O assassino tinha apenas 20 anos e portava armas automáticas, compradas legalmente por sua mãe, em lojas do ramo. Os Estados Unidos têm 300 milhões de habitantes e existem 300 milhões de armas de fogo em poder de sua população. Esse fato também foi notícia, acompanhado de críticas, pela facilidade da aquisição dessas armas, em comparação com outros países, onde a venda é controlada, quando não, proibida. Essa situação é mais complicada nos Estados Unidos, porque a posse de armas por cidadãos tem origem na própria história da independência americana. Até o ano de 1700, os Estados Unidos eram uma colônia da Inglaterra. Por razões comerciais, os americanos começaram a falar em independência. Para dificultar essa pretensão, a Inglaterra editou uma lei, exigindo, que todos os americanos entregassem suas armas ao governo da colônia. Pretendia dificultar qualquer revolta armada por parte dos colonos. O ato inglês teve efeito contrário: Os americanos recusaram entregar suas armas e inicia uma revolta, que culminou com a independência do país. Por isso, a posse de armas ficou associada à independência. Em conseqüência, na elaboração da constituição americana foi incluída a Segunda Emenda. Ela assegurou a todo americano o direito de possuir armas. Quase 300 anos já se passaram e essa emenda ainda está em vigor. Só agora, sensível à sucessão de massacres em escolas e lugares públicos, o presidente Obama anunciou estudos legais, para dificultar a venda indiscriminada de armas. O debate tornou-se necessário, porque o progresso da psiquiatria e da psicologia tem demonstrado, que muitas pessoas não têm condições mentais, para possuir armas. A questão é complexa. Afora os afetados por doenças mentais, mesmo os não psicopatas, podem estar sujeitos a outras pressões psicológicas causadoras de instabilidade mental. São aquelas decorrentes de uma convivência acirrada da vida moderna. Ela gera necessidades, ambições e frustrações constantes. Criou-se uma cultura, onde a violência é um meio, para se adquirir, aquilo, que é desejado. Para alguns, a ambição é aparecer e achar, que a fama, em qualquer circunstância, vale a pena. O pior é, que os meios de diversão perceberam, que a violência é um bom tema. Atualmente, os video-games, muitos brinquedos e filmes retratam um repetir, sem fim, de disputa e agressão. A TV passou a exibir lutas, sem regras, onde os lutadores se engalfinham e se agridem, como animais. Acho esses espetáculos repugnantes. Sou uma pessoa antiga. Antes, os espetáculos e os filmes focalizavam pessoas bonitas, em ambientes sofisticados, com gestos e diálogos elegantes. Nada mais chique, que um filme de Gary Grant, contracenando com Gene Kelly na Riviera Francesa, em Capri, ou em Mônaco. O humor era fino, à base de frases irônicas e sutis. Nada de caretas, correrias, quedas e encontrões. Até o futebol tinha lances de elegância, com jogadores parando a bola e observando, antes de fazer o lançamento. Hoje, o futebol se transformou em um contínuo entrechoque, seguido de quedas e empurrões, sob a histeria de torcidas enlouquecidas. Os filmes atuais não passam de uma sucessão de brigas, explosões, trombadas e tiroteios. Nada disso, faz meu gênero. A pergunta, que faço, é a seguinte: Será, que esses espetáculos não acabam gerando violência?
(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).
Publicado na edição n° 9490, dos dias 22 a 26 de dezembro de 2012.