"Retrato falado" da Capela de São Sebastião, elaborado por Aristeu Moreira, em abril de 1981. Publicado em Reminiscências de Bebedouro, de Manoel Izidoro Filho, 1991, p. 315.

Conforme os registros existentes, o povoamento da região onde se formaria o município de Bebedouro teve início a partir de meados do século XIX, sendo que nos primeiros anos as esporádicas celebrações religiosas eram realizadas nas sedes das propriedades rurais, na dependência de se conseguir algum religioso que se deslocasse até essas localidades.

Antecedendo a construção do primeiro templo religioso, ocorreu a instalação de uma grande cruz de madeira em 3 de maio de 1878, em uma pequena clareira no caminho para a Fazenda Paiol, que ficou conhecido como Largo de Santa Cruz e que hoje corresponde à Praça Abílio Manoel, onde encontra-se a Emeb Cel. Conrado Caldeira.

Alguns anos depois, em 3 de maio de 1884, ocorreu a doação de parte das terras da Fazenda Bebedor para a formação do patrimônio do povoado, data que posteriormente seria oficializada como a da fundação de Bebedouro.

No entanto, a localidade era ainda um incipiente arraial, com algumas construções muito simples dispersas pela área, poucos moradores, sequer havia ruas, mas apenas alguns caminhos ou estradas malcuidadas. Finalmente, também em 1884, seria erguida uma pequena capela de pau a pique e coberta de sapê dedicada a São Sebastião, e o local passou a ser denominado como Largo de São Sebastião.

Embora a capela estivesse sob a jurisdição da Paróquia do Divino Espírito Santo de Barretos, não havia regularidade de celebrações, apenas esporadicamente ocorriam rezas e terços conduzidos por leigos. Em 1888 o casal Francisco Bonifácio de Souza Guerra (Chico Guerra) e Maria das Dores, fazem uma doação que possibilita a construção de uma nova capela à São Sebastião, no mesmo local, porém de alvenaria e coberta de telhas. Com a conclusão das obras em 2 de janeiro de 1889, o padre Francisco Valente, da Paróquia de Barretos, consegue autorização para inaugurar a Capela, o que ocorre no dia 20 do mesmo mês e ano.

Na tradição memorialística dos mais antigos, contava-se que a grande imagem de São Sebastião, que fora adquirida por Chico Guerra numa loja de artigos religiosos em São Paulo, estava muito suja e manchada e antes de ser colocada no altar, teria sido levada ao córrego do Bebedor, onde fora lavada.

Com o tempo a área em que a Capela fora erguida tornou-se o centro do povoado, com o surgimento de estabelecimentos comerciais e residências. No entanto, apesar de ter se tornado município em 1894, as condições do Largo deixavam a desejar, pois havia muito mato, existindo até mesmo uma cisterna sem cobertura e proteção, o que exigiu que a Câmara Municipal realizasse a arborização do Largo.

Destaca-se que no mesmo período fora construída uma outra capela, dedicada à São João Batista, no atual local da Igreja Matriz, porém com o contínuo crescimento da vila, ambas ficaram pequenas para atender os moradores. Desta forma, em 1897, com a elevação da Capelania de Bebedouro a Curato, ainda vinculada à Paróquia de Barretos, houve autorização do Bispado de São Paulo para a reconstrução das duas capelas, sendo que a de São João teria suas benfeitorias abençoadas no dia 24 de junho de 1898.

Em 14 de março de 1900 aconteceu a criação da Paróquia de São João Batista, por decreto do Bispo de São Paulo, o que fez com que a Capela deste santo adquirisse maior importância por sediar a nova Paróquia, ao passo que a de São Sebastião entrou em decadência.

Sendo cada vez menos utilizada para celebrações, em 1910 esta Capela passou a servir como um necrotério, conforme foi registrado na imprensa: “No Largo São Sebastião a capelinha ali existente se transformara em “depósito de cadáveres”, pois fora transformada pelo povo em velório. Ali se levavam corpos de pessoas que faleceram de moléstias contagiosas, pois houvera uma epidemia de alastrim, uma doença eruptiva contagiosa, uma espécie de varíola.”

Mesmo após o final da epidemia, a Capela de São Sebastião continuou desativada e seu estado era de total precariedade. Com o lançamento da primeira pedra da nova Igreja Matriz de São João Batista, decidiu-se pela demolição da igrejinha de São Sebastião em 1912, apesar dos protestos de parte da população. Na sequência o Largo foi remodelado e passou a ser chamado de Praça Cel. Conrado Caldeira, denominação que décadas depois mudaria para Praça Nove de Julho.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense)

Publicado na edição 10.677, de sexta a terça, 24 a 28 de junho de 2022