Para quem não se conforma com o atraso da educação brasileira, fincada em fazer o aluno decorar informações e desistir de pensar, o projeto das Fatecs noticiado por Emerson Vicente é um sopro de esperança. Professores e alunos da Faculdade de Tecnologia de São Paulo, unidades Tatuapé e Jaú, vão construir três embarcações que percorrerão o rio Amazonas para provar que ele é o maior rio do mundo. Maior em extensão do que o Nilo do Egito.
O Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais concluiu que o Amazonas tem 6.992 km e supera o Nilo, com 6.852 quilômetros. Mas o principal é fazer com que os alunos conheçam a realidade amazônica e contribuam com a construção de barcos existentes, feitos com material acessível e sustentável. Não é uma aula teórica, mas um projeto PBL, do inglês Problem-Based Learning, a aprendizagem a partir do problema.
Os barcos serão ecológicos, pois movidos a energia solar e por força física dos próprios ocupantes. A pedalada fará com que eles se exercitem durante a viagem. Serão embarcações do tipo trimarã, com três cascos: um maior no meio e dois menores, um de cada lado. Fabricados com fibras naturais, como cânhamo e juta e resina vegetal feita com óleo de mamona.
Os assentos dos barcos serão ergométricos e o motor também será criado especialmente para o projeto. Peças feitas por impressora 3D, depois fabricadas em metal e mais uma produção do alunado da Fatec. Quando a expedição terminar, os barcos serão doados para as populações ribeirinhas e indígenas. Também haverá o repasse da tecnologia desenvolvida.
Dessa iniciativa resultarão produções como uma websérie, um longa Imax, filmado com câmeras especiais para telas maiores do que as de cinema comuns e um documentário educacional, a ser distribuído em museus de quarenta países.
Ao final da expedição, o programa terá uma extensão: a proposta de “21 Projetos para a Amazônia no Século 21”. É isso que o Brasil precisa propiciar à sua juventude: não se ama aquilo que não se conhece. E a Amazônia, tão falada, tão comentada, tão importante, é ignorada pela maioria da população nacional. Lição também para as escolas que ainda acreditam no decoreba e não se preocupam com o futuro sem perspectivas de seus educandos desalentados.
(Colaboração de José Renato Nalini, Diretor-Geral da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).
Publicado na edição 10.755, sábado a terça-feira, 13 a 16 de maio de 2023