Um dos assuntos mais atuais na sociedade mundial diz respeito à inteligência artificial (IA), suas aplicações e, mais importante, seus riscos. Há uma tendência irreversível de que a IA irá dominar o cotidiano das pessoas, desde as tarefas mais simples, como escrever uma mensagem no celular, até as mais complexas, tal como sua utilização em estudos para a descoberta da cura de doenças que, ao menos até os tempos atuais, representam um enorme risco à humanidade. Mas há também um sentimento de medo no ar.
Trata-se a IA da capacidade de dispositivos e mecanismos eletrônicos funcionarem em modo similar a como é realizado o pensamento humano. Dentre as características, representa a IA a possibilidade de meios eletrônicos resolverem problemas, tomarem decisões e perceberem as variabilidades do cotidiano. Assim, na IA, as máquinas, através do conceito de machine learning e interação de dados e algoritmos, poderão desempenhar funções específicas da inteligência – entender, interpretar, raciocinar e pensar – sem a interferência humana. Uma mudança radical dos paradigmas da sociedade.
Em uma perspectiva que considera os benefícios capazes de serem gerados à humanidade através da aplicação da IA, verifica-se a busca por tecnologias cuja capacidade principal seja a de simular as ações humanas e criar soluções para os mais variados aspectos e dificuldades da vida. Nesse contexto, a efetiva aplicação da IA geraria maior conforto à sociedade, assim como proporcionaria acesso a novas formas de abordar e resolver problemas, fazendo com que os seres humanos possam se voltar cada vez mais para a tarefa de pensar, deixando a cargo das máquinas as tarefas repetitivas, entediantes e pouco eficientes. Haveria, nesse cenário, um ganho absurdo de produtividade em nossa rotina, com enormes benefícios para a vida humana e a teia social.
Por outro lado, existe hoje o receio do que pode vir a se tornar a IA. Logicamente, tudo aquilo que é novo e está em seus primeiros passos gera certa admiração e, também, receio. Há, contudo, um sentimento de que a IA, justamente por fomentar o aprendizado da máquina, possa estimular uma instrução desenfreada dos mecanismos de inteligência não humana, e que essa “nova inteligência”, se não usada com parcimônia e responsabilidade, poderá verter riscos para a sociedade. Será que poderemos ser ultrapassados e, talvez, subjugados pelas máquinas? Haveria o risco de “perdermos o controle” sobre as máquinas e seus mecanismos inteligentes de funcionamento? Qual seria a barreira ética de sua aplicação? São questões válidas e pertinentes a serem discutidas e sobre as quais devemos refletir nos primeiros passos da IA, enquanto novo modelo de pensamento.
Dessa forma, observa-se que a IA pode tanto ser uma benção para a humanidade, como fonte de automação, criação e resolução mais eficiente e veloz de problemas e dores da sociedade, como pode se tornar um risco para as pessoas, as instituições, as empresas e a raça humana como um todo. Um assunto bastante complexo, por vezes polêmico, mas atual e que deve ser enfrentado pela sociedade.
Assim, as perspectivas para a IA podem ser promissoras ou sombrias, a depender do que virá pela frente. Não se pode vislumbrar exatamente o que ocorrerá com a inteligência das máquinas, muito embora já haja alguns indicativos; contudo, o debate intelectualmente honesto sobre o tema se mostra cada vez mais necessário, para que possamos impor limites, se necessário, ao desenvolvimento da IA. Ela pode ser boa para o futuro da humanidade, e há fortes indícios nesse sentido, porém não podemos simplesmente deixar o tema caminhar solto, sob pena de termos que lidar com desafios enormemente complexos no futuro.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.755, sábado a terça-feira, 13 a 16 de maio de 2023