Benção mãe, benção pai

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O passado embala, mas o futuro preocupa.

Sábado passado fui cortar cabelo no salão do Donizete, ao lado da agência do Banco Itaú, na rua São João, centro de Bebedouro. Na hora da espera, surgiu o papo sobre brincadeiras da infância.
Hoje em dia, quase não se vê mais meninos brincando de pique esconde, empurrando pneus pelas ruas como se fossem carros ou andando em carrinhos de rolimã. As meninas brincavam de queima, passar anel, pular corda e riscavam com giz ou tijolo as calçadas para brincar de amarelinha.
As casas tinham quintal com árvores frutíferas, pés de goiaba, manga e jabuticaba. E não consigo esquecer a vez em que subi no pé de abacate e só descobri depois de despencar lá do alto, que os galhos eram fracos.
Assistíamos televisão para acompanhar os seriados de aventura: Viagem ao Fundo do Mar, Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo, Jornada nas Estrelas, Ultramen, Ultraseven, Robô Gigante, Kojak, Columbo, Swat, e os desenhos Speed Racer, Pinóquio. Não me recordo de novelas porque criança não se interessava por teledramas.
Sou de uma geração que cresceu ouvindo Raul Seixas cantando Ouro dos Tolos – hino contra o conformismo, Chico Buarque versando o samba Vai Passar – retrato do Brasil pós-ditadura, e Milton Nascimento clamava por esperança em Coração de Estudante.
E sempre que encontrávamos nossos pais e mães, dizíamos ‘benção, mãe, benção pai’.
Escrevo tudo isto não com saudosismo ou tristeza, mas com total orgulho de todos que cresceram neste ambiente. Posso garantir que esta geração é 90% menos individualista e mais solidária até com quem não conhece.
O que me deixa preocupado é a geração do meu filho que não teve esta oportunidade. Eu cuido para que ele seja alguém de bem. Mas como teorizam os psicólogos, o ambiente também forma o caráter. É justamente isto que me tira o sono.

(Colaboração de Marco Antônio dos Santos, jornalista).

Publicado na edição n° 9498, dos dias 15 e 16 de janeiro de 2013.

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