Chave para o desenvolvimento

0
396

Marcos Cintra

A ciência, a tecnologia e a inovação são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento, o crescimento econômico, a geração de emprego e renda, a democratização de oportunidades, e mesmo a manutenção da soberania de uma nação. Além disso, determinarão o modo de vida da sociedade futura.
Essa é uma questão de Estado, que ultrapassa ideologias ou governos. O papel da inovação como motor do crescimento e como explicação relevante para as diferenças nas taxas de crescimento e nos níveis de renda entre os países, está definitivamente estabelecido na literatura especializada, agindo principalmente por intermédio dos seguintes canais:
• Empresas inovadoras crescem mais aceleradamente, tanto em termos de faturamento quanto de geração de empregos, e oferecem postos de trabalho de melhor qualidade;
• A inovação tecnológica e os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) aumentam as chances de a empresa ingressar no mercado internacional, e ampliam o volume de exportações e a integração nas cadeias globais de produção;
• A inovação tecnológica aumenta a competitividade e permite a obtenção de margens de lucro superiores.
Vários países, a exemplo de Estados Unidos, China, Coreia, Israel, têm colocado a inovação como eixo central de suas estratégias de retomada do crescimento após a crise de 2008.
Como exemplo dessa tendência, vale lembrar o caso da indústria 4.0, reconhecida como a quarta revolução industrial. Estados Unidos e Alemanha têm liderado essas tecnologias, com forte interação entre centros de pesquisa e setor produtivo, com grande apoio e liderança de seus governos.
Esse novo paradigma já vem influenciando fortemente a dinâmica das cadeias globais de valor, com fortes impactos econômicos e sociais. Fábricas automatizadas e robotizadas demandam cada vez menos mão de obra. Dessa forma, a produção com tecnologia avançada se direciona para os países com melhor formação de mão de obra, deixando de ser atraída pelos baixos custos do trabalho. A Nike, por exemplo, cuja produção está quase totalmente direcionada à Ásia, recentemente montou uma fábrica nos Estados Unidos com a utilização desses conceitos. Outras empresas, como Apple e GE, estão retornando aos EUA por conta dessas tecnologias.
O Brasil deve colocar a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em um nível de prioridade como a educação e a saúde. Sem investimentos nessas áreas perderemos a corrida tecnológica, e consequentemente nossa posição em setores como o aeronáutico, o agronegócio e o automobilístico, além de outras tecnologias promissoras, como bio e nanotecnologia, medicina personalizada, telemedicina, energia renovável e economia criativa, que são exemplos das principais tendências mundiais.
Um tratamento não prioritário à CT&I nacional significaria andar na contramão das tendências dos principais países, e pior, arriscar jogar fora parte dos investimentos já realizados na constituição de modernas infraestruturas de pesquisa, e de grupos e redes de pesquisa, uma vez que esses investimentos, por serem dinâmicos, ao se verem freados ou mesmo paralisados, não serão retomados de modo eficaz.

(Colaboração de Marcos Cintra, doutor em Economia pela Universidade Harvard – EUA, professor titular da Fundação Getulio Vargas. É autor do projeto do Imposto Único. É presidente da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos).

Publicado na edição nº 10100, de 7 e 8 de março de 2017.