
Francisca Pereira Rodrigues, que se popularizou como Chiquinha Rodrigues, não era bebedourense. Nascida em 1896, na cidade de Tatuí, desde muito jovem mostrou-se inclinada para atuar no campo educacional, tendo estudado na Escola Normal de Itapetininga, onde se formou em 1913, antes ainda de completar a maioridade, tendo se casado dois anos depois.
Logo começaria a escrever para jornais e revistas, além de retomar a carreira do magistério, interrompida pelo nascimento dos filhos, porém, foi com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, que intensificou sua atuação como militante política, defendendo fervorosamente a causa paulista, conclamando os jovens a se alistarem como voluntários.
Após o término da Revolução, participou da fundação da Federação dos Voluntários, que seria um dos pilares do Partido Constitucionalista, fundado em 1934 e no qual atuou organizando diretórios no interior. Destacou-se ainda pelo engajamento em prol do ensino, sendo fundadora da Bandeira Paulista pela Alfabetização, que resultou na criação de centenas de escolas primárias no estado.
Foi por conta desta atuação política que Chiquinha vinculou-se à Bebedouro. Em uma época em que os redatores, editores e colunistas dos jornais eram hegemonicamente do sexo masculino, veio a ser uma das primeiras mulheres na imprensa local, tendo publicado mais de trinta artigos entre os anos de 1932 e 1934 na condição de colaboradora do jornal “O Bebedourense”, com temas relacionados à emancipação feminina, à política ou ao ensino.
Desta forma, em dezembro de 1932 foi publicado seu primeiro artigo, denominado “Às Urnas”, no qual comentava sobre a importância do voto feminino, justamente no ano em que este fora instituído no Brasil por meio de decreto do presidente Vargas, ainda que fosse facultativo.
No início do ano seguinte, o mesmo tema foi pauta de um novo artigo, sob o título “Mulher da minha terra”. Em outra publicação, “Votae…”, reforçava: “Quem se negar ao voto ficará à margem da vida política de nossa terra.” Já no poema “Vós reagireis agora”, afirmava: “Eia senhoras – votae e sereis a paulista de escol na terra de São Vicente.”
Além das frequentes publicações em prosa ou poema, Chiquinha era frequentemente citada em outras matérias de “O Bebedourense”, inclusive na campanha que este jornal promoveu para incentivar seus leitores à prática do voto.
No artigo “Falando a Bebedouro”, reforçava sua campanha pela educação: “Meu bom amigo. Cerremos fileiras em torno da causa da instrução. É nesta campanha – Bebedouro amigo – a esta cidade a primeira a quem falo. Ensinemos a ler aos pequeninos e aos grandes. Que se façam festas e collectas ahi. O dinheiro que fique convosco para a manutenção das escolas creadas.”
A proximidade com os bebedourenses fez com que Chiquinha visitasse a cidade algumas vezes, sendo a primeira em julho de 1933, quando permaneceu por dois dias. No final de agosto, voltando de uma visita à Barretos, passou por Bebedouro e foi recepcionada por munícipes na Estação local. Em dezembro, ao escrever sobre a colaboração das mulheres paulistas na Federação dos Voluntários, citou o nome daquelas que mais se destacaram em vários municípios, e sobre Bebedouro destacou a “arregimentação intensa com a colaboração de Anna Maria Oliva, Nina Maia, Emerenciana de Almeida e outras.”
Voltou à cidade em julho de 1934, sendo hospedada na residência do professor Oscar Rodrigues de Freitas, diretor de “O Bebedourense”, onde recebeu muitas visitas de políticos e admiradores. Em outubro do mesmo ano, encaminhou telegrama ao presidente do Partido Constitucionalista de Bebedouro, Norberto Rangel, informando sobre a criação de um segundo grupo escolar na cidade, que inicialmente foi instalado no mesmo edifício do Grupo Escolar Abílio Manoel. Posteriormente, no início da década seguinte, seria inaugurado o prédio próprio para esta escola, que foi denominada “Cel. Conrado Caldeira”.
Sua relevante atuação como militante e escritora possibilitou que concorresse a uma cadeira da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo nas eleições suplementares de 1936 e, sendo eleita, exerceu o cargo até o fechamento do Legislativo pelo Estado Novo, em novembro de 1937. Com a redemocratização em 1945, foi eleita prefeita do município paulista de Tatuí. Pouco antes do seu falecimento em setembro de 1966, foi homenageada com o título de Educadora Emérita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Além de ter deixado dezenas de livros publicados, seu nome foi dado como patrona de escolas públicas municipais e estaduais.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.738 – De sábado a terça-feira, 4 a 7 de março de 2023