Chegou ao fim no último domingo, a Copa do Mundo de futebol masculino da Fifa. A Argentina, seleção campeã do torneio, era uma das favoritas ao título, apesar do início ruim com a derrota inesperada para a Arábia Saudita. O Brasil parou nas quartas de final para a Croácia e perdeu a oportunidade de conquistar o sexto título mundial. Destaca-se, contudo, que a competição, bastante tradicional no mundo dos esportes e que há décadas movimenta o Brasil, trouxe também consigo algumas importantes lições para a vida.

A primeira grande lição diz respeito à importância do direito à expressão e aos valores humanos. Manifestações de cunho político e de defesa dos direitos das mulheres e dos homossexuais foram simplesmente abolidas do torneio em razão da cultura e da tradição do país organizador e de escolhas políticas realizadas pela Fifa. Logicamente, o foco do torneio é esportivo, porém em um evento com tamanho alcance, variedade de povos e culturas envolvidos e em um mundo cada vez mais globalizado e que preza pela igualdade, é curioso que manifestações dessa natureza sejam vedadas. Isso só reforça a importância da liberdade de expressão e da relevância da luta por mais direitos humanos no mundo.

A segunda substancial lição trazida pela Copa do Mundo de 2022 é a de que a força de um grupo faz com que grandes feitos sejam alcançados. Muito embora Lione Messi seja um jogador de futebol muito acima da média, somente com um grupo coeso, unido e bem-preparado que a busca pelo título se torna factível. Vários jogadores, de Otamendi a De Paul, de Martínez a Fernandez, de Di Maria a Álvarez, tiveram enorme importância na caminhada rumo ao terceiro título mundial da Argentina. Todos, sob a batuta de Scaloni, foram fundamentais para a caminhada heroica da seleção campeã rumo ao título. Um profissional de destaque ganha uma partida, mas somente um grupo forte, preparado e comprometido com o objetivo final pode conquistar um campeonato.

No que concerne à terceira lição, esta diz respeito à importância do foco e, acima de tudo, de não se deixar crer que a meta será alcançada pura e simplesmente em função das glórias do passado. O Brasil fez uma campanha brilhante nas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo. A seleção canarinho se classificou para o mundial com grande antecedência e “com sobras”, teve uma caminhada sólida até o Catar e chegou ao torneio como uma das grandes favoritas ao título. O que se viu, contudo, foi uma seleção que não soube efetivamente jogar um mundial, com falhas técnicas, táticas e de estratégia de jogo. Nesse sentido, fica a lição de que as glórias do passado – não só a consistência das partidas nos últimos anos, como o histórico de títulos – não são garantia de nada.

Começado o torneio, todos estão remando a partir do mesmo ponto, e cabe à cada seleção dar o melhor de si. O foco ali, naquele torneio, naqueles adversários, é fundamental para que o objetivo final, isto é, a conquista da Copa do Mundo, seja alcançado. Nunca cantar vitória antes da hora e foco no momento.

Por fim, a quarta e última grande lição da Copa do Mundo de 2022 é a de que situações imprevistas acontecem. Quem imaginou, no início do torneio, que a seleção marroquina seria semifinalista? Que a poderosa seleção alemã seria eliminada ainda na fase de grupos? Que a campeã Argentina seria derrotada pela Arábia Saudita? Imprevistos acontecem o tempo todo, e por mais que uma situação pareça óbvia, devemos sempre estar preparados para o imprevisível, pois na vida, assim como na Copa do Mundo, ele acontece. Contar com as “zebras” da vida é fundamental para que não sejamos pegos no contrapé.

A Copa do Mundo do Catar, com todos os seus problemas, polêmicas e “zebras”, foi incrível. Que em 2026, na inédita sede tríplice (Estados Unidos, México e Canadá), muitas outras lições, para o bem e para o mal, sejam aprendidas e que o melhor futebol seja jogado – e, se possível, que o Brasil traga o hexa. Boas Festas a todos e até 2023, se Deus quiser.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).

Publicado na edição 10.723 da Gazeta de Bebedouro de 22 de dezembro de 2022 a 10 de janeiro de 2023