Nunca foi fácil ser o ou a presidente-executivo(a) de uma empresa. Esse(a) profissional, denominado(a) Chief Executive Officer (CEO), no termo em inglês, é o(a) responsável pela execução das atividades e do planejamento estratégico das corporações, sendo uma espécie de maestro ou maestrina perante o corpo de profissionais – diretores(as), gerentes, coordenadores(as) e demais colaboradores(as) – que fazem a mágica acontecer no ambiente corporativo.
Nas atribuições diárias, o(a) CEO deve proporcionar o melhor ambiente possível para que os(as) profissionais que compõem a estrutura organizacional possam desempenhar bem o seu papel e atingir os resultados almejados. Nesse contexto, os ou as CEOs ora são a bússola da equipe, indicando caminhos, ora atuam como juízes(as) em empasses organizacionais ou estratégicos, ora desempenham o ingrato papel de colocar limites, decidir o que deve ser feito e seguir em frente, buscando o melhor para a empresa, seus sócios, colaboradores e a comunidade.
Os(as) CEOs podem atuar conforme um planejamento estratégico claro, definido pelos(as) sócios(as) eventualmente com a ajuda de consultores(as) externos, ou através das diretrizes estabelecidas pelo conselho de administração, quando existente na estrutura esse importante órgão de governança corporativa. Muitas das vezes, porém, as decisões dos ou das CEOs são solitárias, amargas ou difíceis, quando o objetivo é defender os interesses do negócio. A organização deve sobreviver e se desenvolver, e cabe ao ou à CEO definir o que pode e deve ser feito para tanto.
Porém, com o aumento das complexidades do mundo e da sociedade atual, os desafios enfrentados pelos ou pelas CEOs têm aumentado de forma crítica. Isso é o que demonstra um artigo publicado recentemente pela revista The Economist, intitulado the overstretched CEO (algo como “o CEO esticado”), que aponta as dificuldades enfrentadas por esses(as) profissionais para que consigam equilibrar as necessidades e anseios dos(as) colaboradores(as), fornecedores(as), acionistas, governos e sociedade.
O artigo destaca uma mudança em curso no mundo, no sentido de que os governos têm cada vez mais se tornado dirigistas, isto é, atuado para que determinadas políticas sejam implementadas pelas empresas em um mundo complexo, plural, ultra conectado e, em certa medida, mais caótico do que outrora. Pandemia, quebras das cadeias logísticas, tensões geopolíticas, mudanças climáticas, polarizações políticas, ascensão de gerações que não concordam com quase nada, ativismo judicial, tudo isso remete a uma complexidade ímpar com a qual os e as CEOs têm de lidar diariamente.
Adicionalmente, a revista destaca que os governos têm atuado de forma bastante ativa, ao pretenderem estar presentes em todos os flancos de batalha da sociedade. Eles visam corrigir as falhas da globalização recuperando os postos de trabalho nas empresas, ao mesmo tempo em que querem proteger tecnologias vitais para o país das garras de competidores externos e combatem as mudanças climáticas acelerando medidas de descarbonização. Os e as CEOs, coitados, ficam no meio do tiroteio, tendo que lidar com as pressões advindas de todas as partes, buscando o melhor para a empresa e para a sociedade, dançando conforme a música governamental e tendo que lidar com enormes desafios externos e, principalmente, internos, já que os livros dos gurus de administração do passado hoje, não servem mais para muita coisa. As relações de trabalho mudaram; as relações entre empresas e governos mudaram; as relações entre organizações e sociedade mudaram; quase tudo mudou.
Neste contexto, destaca o artigo, é importante que os e as CEOs não se furtem de enfrentar os desafios postos, visando sempre a geração de valor para sócios (as) e a sociedade como um todo. O fundamental é que os e as CEOs ajam e atuem de forma coerente e de maneira a afetar positivamente os negócios da empresa. Um desafio e tanto em um mundo BANI, acrônimo em inglês para frágil, ansioso, não-linear e incompreensível, que demanda estratégia, resiliência, ação e muito, mas muito jogo de cintura. Um alinhamento adequado entre desafios alcançáveis, remuneração adequada e justa e confiança entre CEOs, acionistas e conselho é um bom começo de conversa.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).
Publicado na edição 10.778, sábado a terça-feira, 5 a 8 de agosto de 2023