Com a abertura do Ginásio Luso-Brasileiro em 1922, instituição precursora do ensino secundário na cidade e que posteriormente viria a se tornar o Ginásio Municipal de Bebedouro, ocorreu o deslocamento de diversos professores de outras localidades.
Entre os que aqui chegaram para lecionar no Ginásio, alguns eram de origem portuguesa, como os professores Augusto Pinto Vieira da Silva (1884-1951) e Orlando França de Carvalho (1904-1976). Além destes, o lusitano Anselmo Augusto Gomes também se destacou na educação bebedourense entre as décadas de 1920 e 1940.
Nascido na região de Trás-os-Montes em 24 de março de 1895, Anselmo Gomes iniciou os estudos elementares em seu país natal e depois foi enviado para um seminário jesuíta na Bélgica, onde permaneceu por cerca de oito anos, tendo cursado filosofia e teologia. No entanto, em decorrência de discordâncias com alguns princípios do catolicismo não se ordenou como sacerdote.
Mudou-se para o Brasil em 1919, fixando-se primeiramente na cidade do Rio de Janeiro, onde lecionou em estabelecimentos particulares. Posteriormente transferiu-se para a capital paulista, onde além de ter trabalhado em diversos segmentos, lecionou por curto período no Instituto Mackenzie.
No ano de 1928 chegou em Bebedouro para lecionar em nosso Ginásio, mas logo passou a atuar em outras searas. No campo jornalístico, foi colaborador do “Jornal de Bebedouro” no início da década de 1930. Teve participação ativa na fundação da “Associação Comercial e Industrial de Bebedouro” em 1934, tendo secretariado a primeira reunião, ocasião em que foi um dos quinze eleitos para compor a diretoria.
Destacou-se também no movimento espírita local, sendo eleito em 1934 como orador oficial e em 1946 como presidente da Mocidade Espírita de Bebedouro – MEB, Atuante no Centro Espírita do Calvário ao Céu, desempenhou a função de orador por muitos anos e realizou diversas conferências na cidade e região.
Em 1948, conforme noticiado pelo jornal “A Vanguarda” na edição de 24 de outubro, foi nomeado para exercer funções técnicas na cadeira de Literatura Portuguesa, da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo – USP, destacando que o professor aqui permanecera por vinte anos, exercendo o magistério com “brilho invulgar”, sendo considerado um brilhante orador, jornalista e conferencista.
Em São Paulo, além das atividades desenvolvidas na docência e reitoria da USP, tornou-se orador oficial da Federação Espírita do Estado de São Paulo, sendo identificadas na imprensa paulista a realização de inúmeras conferências sobre variados temas da doutrina espírita, em cidades como São Paulo, Santos e São Vicente, entre outras.
Em 16 de fevereiro de 1961, foi vítima de atropelamento em local próximo à sua residência em São Paulo, quando foi a óbito aos 63 anos de idade. Como reconhecimento pelo significativo trabalho desenvolvido em prol do movimento espírita, foi homenageado na fundação da “Casa Assistencial Espírita Anselmo Gomes”, em 20 de março de 1979, localizada no bairro Residencial Santo Antônio. Em 1995, por meio de decreto municipal, seu nome passou a denominar uma praça localizada no bairro Residencial Irmãos Furquim. Na capital paulista, foi fundado em 1963, no bairro da Mooca, o “Lar Espírita Anselmo Gomes”, voltado para a divulgação da doutrina.
Ficou registrado um interessante relato do Dr. Ademar Chaves, da Sociedade Geográfica Brasileira, acerca do trabalho realizado pelo professor na década de 1940, quando os citricultores bebedourenses sofriam os impactos da doença “tristeza” que atingiu os laranjais:
“O quadro era de uma desolação completa. Restava, entretanto, a certeza da vitória: Bebedouro produzia inegavelmente a melhor laranja estadual. Posteriormente, refeitos do impacto emocional, voltaram à luta, não só a equipe do Cel. Raul Furquim, tendo à frente o idealista Francisco Ferreira de Medeiros e os demais, não só baseados na persistência como também incentivados pelos trabalhos jornalísticos encabeçados por Anselmo Gomes, esta luminosa e privilegiada inteligência que presta hoje serviços na Reitoria, aqui em São Paulo. E voltaram a florir as laranjeiras de Bebedouro”.
De fato, não apenas as laranjeiras voltaram a florir, mas a recuperação da citricultura possibilitou que Bebedouro se tornasse a “Capital da Laranja”.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição 10.887, de sábado a quinta-feira, 9 a 14 de novembro de 2024 – Ano 100