A ciência e sua serva, a tecnologia, conseguiram a façanha de prolongar a vida humana. Para os que têm condições de se cuidar, isso significa permanecer mais tempo nesta peregrinação. Muitos atingem noventa e, alguns deles, até cem anos. Coincidentemente, os que chegam a idades longevas, são em regra os mais preparados. Os mais escolarizados, os mais abonados.
Até o Brasil, com seus milhões passando fome, seus muitos milhões de miseráveis, têm idosos que sustentam netos com suas aposentadorias ou pensões. Mas o foco desta reflexão é uma outra faixa: aquela dos idosos que ainda têm condições de trabalhar. Oferecem sua experiência, a sua sapiência consolidada, a sua capacidade de adaptação, a um mercado carente de talentos.
São também os que têm condições de consumir. Verdade que uma boa parte de seus ganhos é revertida em medicamentos e em tratamento auxiliar para as vicissitudes que acompanham a velhice. Mas são os que ainda viajam. Antigamente, “velho não saía de casa”. Hoje os velhos estão fazendo tudo aquilo que gostariam e que talvez não tenham tido condições de fazer quando lutavam para ganhar a vida.
Isso faz com que haja uma economia prateada, aquela voltada não só às necessidades, mas às aspirações, desejos e sonhos dos que já cumpriram o seu dever e estão a vivenciar os anos finais. Que sejam anos saudáveis e agradáveis. Os velhos bem-humorados são os que extraem da vida, com todos os seus obstáculos e contratempos, o que de melhor ela oferece.
Sabem que tudo é muito relativo. Que a dor lancinante de um rompimento afetivo, que parecia insuportável, torna-se até gostosa com o sabor das saudades. Que as perdas se cicatrizam. Pessoas amadas ocupam lugar inviolável nos jardins da memória. Porém o sofrimento é amenizado por esse grande professor que é o tempo.
O mercado, que pode ser tudo, menos ingênuo, descobriu nos idosos um filão apetitoso. Eles sabem que não lhes resta muito. Então gastam sem pensar no amanhã. Sustentam essa próspera economia prateada. Os que dependem dela agradecem.
(José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022).
Publicado na edição 10.676, quarta e quinta-feira, 22 e 23 junho de 2022.