O envelhecimento da população é uma realidade global e, no Brasil, o processo está ocorrendo de forma rápida. Até 2050, a expectativa é que um terço dos brasileiros seja composto por idosos, o que demanda mudanças profundas na maneira como o sistema de saúde opera. Nesse contexto, garantir o bem-estar e a qualidade de vida da população idosa depende de estratégias multidisciplinares bem coordenadas. Entre os diversos profissionais envolvidos, o farmacêutico clínico se destaca como peça-chave na gestão de cuidados, especialmente quando se trata de polimedicação e a segurança no uso de medicamentos.
Desafios de um Sistema de Saúde para idosos
O envelhecimento traz consigo aumento significativo nas doenças crônicas e nas condições de saúde que exigem tratamentos contínuos. Hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, osteoporose e declínio cognitivo são apenas algumas das condições que demandam intervenções regulares e cuidadosas. A gestão desses problemas exige equipe de saúde integrada e capacitada para lidar com a complexidade dos cuidados necessários.
No entanto, a realidade brasileira ainda está longe de oferecer um sistema de saúde adequado para essa crescente demanda. Faltam políticas públicas que incentivem a coordenação entre médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e farmacêuticos clínicos, o que leva a uma fragmentação do cuidado e ao aumento dos riscos à saúde da população idosa.
A importância do cuidado multidisciplinar
Um dos pilares para garantir o envelhecimento saudável é o cuidado multidisciplinar. Em um cenário ideal, os idosos seriam acompanhados por equipes que atuam de forma coordenada, onde cada profissional contribui com sua expertise para alcançar o melhor resultado possível. O farmacêutico clínico, nesse contexto, tem umpapel fundamental na gestão farmacoterapêutica, considerando que a maioria dos idosos faz uso de múltiplos medicamentos para diferentes condições crônicas.
O cuidado multidisciplinar reduz a duplicação de esforços, evita erros e garante que o plano de tratamento esteja alinhado com as reais necessidades do paciente. Essa abordagem centrada no paciente permite identificar precocemente problemas como interações medicamentosas, adesão inadequada ao tratamento e efeitos adversos, que são comuns em idosos.
O papel do Farmacêutico Clínico no cuidado ao idoso
O farmacêutico clínico é o profissional capacitado para gerenciar de forma segura e eficaz o uso de medicamentos em pacientes idosos. Com o envelhecimento, os indivíduos estão mais suscetíveis à polimedicação, aumentando os riscos de reações adversas e interações. O farmacêutico clínico atua diretamente na conciliação medicamentosa, otimizando o regime terapêutico e reduzindo a carga de medicamentos desnecessários.
Além disso, o farmacêutico clínico contribui com a educação do paciente e de seus cuidadores, promovendo o uso seguro dos medicamentos e incentivando a adesão ao tratamento. Sua presença em equipes multidisciplinares, principalmente na atenção primária, melhora significativamente os resultados de saúde e a qualidade de vida dos idosos.
A falta de Políticas Públicas que priorizem o envelhecimento
Apesar da crescente demanda, as políticas públicas ainda não refletem a urgência de implementar estratégias multidisciplinares que incluam o farmacêutico clínico como peça central na assistência à saúde do idoso. A ausência de diretrizes que integrem a atuação dos diferentes profissionais de saúde resulta no cuidado fragmentado, oneroso e, muitas vezes, ineficaz.
Em países com sistemas de saúde mais avançados, como o Canadá e a Austrália, o farmacêutico clínico já é parte integrante das equipes que cuidam de idosos, sendo reconhecido por seu papel crítico na prevenção de complicações e no aumento da segurança no uso de medicamentos. No Brasil, essa prática ainda é limitada, muitas vezes relegada a iniciativas isoladas ou a setores específicos de hospitais.
Estratégias multidisciplinares: caminho para o envelhecimento saudável
Para atender as demandas da população idosa, o Brasil precisa avançar em projetos que integrem o cuidado multidisciplinar, com o farmacêutico clínico como parte essencial dessas equipes. Investir na capacitação desses profissionais e criar políticas que incentivem a coordenação de cuidados são passos fundamentais para garantir que o envelhecimento seja acompanhado por qualidade de vida.
É necessário que gestores e formuladores de políticas públicas compreendam a importância da abordagem integrada e desenvolvam programas que priorizem o bem-estar do idoso como um todo. A atenção à saúde deve ir além do tratamento de doenças e focar em uma gestão global, onde a promoção da saúde e a prevenção de complicações sejam o objetivo principal.
Conclusão
O país está diante de desafio inédito e precisa se adaptar rapidamente para garantir o bem-estar de sua população idosa. As estratégias multidisciplinares que incluam o farmacêutico clínico como peça-chave na equipe de saúde são essenciais para enfrentar os desafios do envelhecimento. Sem o cuidado coordenado e centrado no paciente, a saúde dos idosos será comprometida, sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde e reduzindo a qualidade de vida dessa população. Implementar políticas públicas que reconheçam e valorizem o papel de cada profissional no cuidado ao idoso é o caminho para o envelhecimento saudável e digno.
Saúde, saúde, saúde!!!
(Colaboração de Dr Luiz Antônio da Assunção, Farmacêutico clínico, CRF 23.110 SP, Pós graduado em acompanhamento farmacoterapêutico; e em gastroenterologia funcional e nutrigenômica).
Publicado na edição 10.870, quarta, quinta e sexta-feira, 4, 5 e 6 de setembro de 2024 – Ano 100