Segundo o SUS, o atendimento a idosos causado por quedas aumentou 100% entre os anos de 2013 e 2022. Só no ano de 2022, o número de atendimentos ultrapassou os 33 mil casos.
Georgina Coutinho dos Santos e seu marido fazem parte dessas estatísticas. Em um domingo, o marido passava pano na casa quando inocentemente tropeçou e bateu a cabeça no chão. Apesar de ter sido internado rapidamente, veio a óbito. 22 anos depois, a própria Georgina pisava em uma colcha de cama e batia com a cabeça na parede. Teve mais sorte que o marido, passou um mês com olho roxo, aparentemente a única sequela mais grave.
Como eles, cerca de 60 idosos procuram atendimento hospitalar diariamente no Brasil devido a quedas. Desses, 19 não conseguem sobreviver. Para se ter ideia da grandeza preocupante do tema, só em 2022 foram registrados 9.592 óbitos, sendo a terceira maior causa externa de morte em pessoas com mais de 65 anos. Sim, a terceira maior causa!
Motivos diversos
Para os idosos, conviver com múltiplas comorbidades é algo comum e esperado. A partir dos 60 anos, surgem alterações neurológicas que, mesmo em graus leves, podem causar tonturas que desestabilizam o indivíduo. Nesse mesmo contexto, as doenças articulares, como a artrose, resultado do desgaste da cartilagem, se tornam frequentes. Outras condições debilitantes incluem a osteoporose, que enfraquece os ossos, e a fibromialgia, caracterizada por intensas dores nas articulações, músculos e tendões. Problemas de visão, como a catarata, também limitam significativamente a mobilidade, mesmo em ambientes controlados e de pequenas dimensões.
Todos esses fatores têm um impacto profundo na vida dos idosos e certamente contribuem para o aumento das quedas e dos óbitos subsequentes. No entanto, um problema em particular tem ganhado crescente atenção na área da saúde: a perda de força e massa muscular, conhecida como sarcopenia.
Desafios da manutenção
O organismo humano começa a ter perda natural e progressiva de massa muscular aos 30 anos de idade. Mas é aos 50 que ela se torna bem mais significativa, chegando a 2% ao ano.
Se o indivíduo é sedentário, não se alimenta bem e ainda por cima tem doenças crônicas como o diabetes e hipertensão, a situação de perda muscular é potencializada ao extremo, levando-o a uma séria limitação funcional e incapacidade. Pior do que isso, muitas vezes o músculo perdido é substituído pela gordura, o que pode levar à mudança do metabolismo corporal.
Refletindo exaustivamente sobre o tema, a médica norte-americana Gabrielle Lyon defende que para envelhecer bem e com boa qualidade de vida é necessário construir e manter músculos. E não precisa pensar longe: se você tem o desafio de ser autônomo e independente, carregar as compras do supermercado ou mesmo pegar o seu neto no colo, vai entender a ideia.
Lyon argumenta que, além dos benefícios no dia a dia, o ganho de massa muscular é crucial para a prevenção de diversas doenças crônicas. Contrariando a cultura midiática predominante, ela defende que é mais importante ganhar músculos do que simplesmente perder peso. Lyon acredita que o sistema musculoesquelético é o órgão mais subestimado do corpo, especialmente quando se trata de idosos. Com o avanço da idade, é necessário ajustar a manutenção da saúde muscular, exigindo um esforço diferente daquele aplicado na juventude. Embora não seja necessário exagerar, é fundamental que esse esforço seja robusto o suficiente para manter o equilíbrio do organismo, que foi projetado para a atividade e para a ação.
Ela afirma que a inatividade não é uma opção para quem deseja manter a saúde. Quanto mais massa muscular uma pessoa possui, maior é sua capacidade de se proteger contra doenças e melhorar suas chances de sobrevivência. Ela ressalta que a atividade física deve ser encarada como um modo de vida.
E, querido leitor, caso tenha interesse sobre o tema, vale a pena passar os olhos pelo livro A Revolução dos Músculos, escrito pela própria Dra. Gabrielle Lyon, no qual ela apresenta uma abordagem robusta para a reprogramação do corpo. Vale a pena conhecer.
(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em Ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).
Publicado na edição 10.870, quarta, quinta e sexta-feira, 4, 5 e 6 de setembro de 2024 – Ano 100