Inteligência artificial generativa na estratégia corporativa

José Mario Neves David

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Não é mais segredo para ninguém que as mudanças e recentes lançamentos de inteligência artificial têm enorme potencial disruptivo nas cadeias de produção e na estratégia corporativa das pequenas, médias e grandes empresas do Brasil e do mundo. Muitas são as dúvidas, assim como as possibilidades de uso das soluções de inteligência das máquinas para melhoria do cotidiano das pessoas e das corporações. Mas quais seriam essas mudanças, e em qual medida as prováveis modificações da relação humanos-máquinas podem impactar os negócios?

Em recente estudo lançado pela consultoria de gestão e estratégia McKinsey & Company, foram identificadas, junto a CEOs e membros de conselhos de empresas de todo o mundo, as principais tendências de aplicação da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) nas corporações e estratégias de negócios nos próximos anos. A GenAI engloba o processamento de linguagens naturais na interação entre pessoas e máquinas, de forma a gerar relacionamento e conexão entre as partes e criação de conteúdo através da pesquisa e aprendizagem de sistemas. Os exemplos mais famosos de elementos de GenAI são o ChatGPT, o Claude e o Bard, do Google.

De acordo com o mencionado estudo, a GenAI tem potencial para movimentar até 4,4 trilhões de dólares ao ano na economia mundial, valor muito superior ao PIB do Brasil, avaliado em aproximadamente 1,6 trilhão de dólares, nos dados mais recentes. Deste enorme montante, cerca de 75% do capital movimentado deverá ser gerado em operações de quatro áreas específicas: marketing e vendas, pesquisa e desenvolvimento (P&D), operações relacionadas a clientes e engenharia de software. Os segmentos bancário, de bens e consumo e de ciências biomédicas deverão ser os mais afetados.

Relativamente ao marketing e vendas, a GenAI deve proporcionar maior personalização e escala na interação com clientes, dando ênfase nos interesses, preferências e comportamentos desse público consumidor. Há, conforme o estudo aponta, através da adoção de práticas de GenAI, expectativa de redução de custos corporativos na ordem de até 15% com marketing e 5% com vendas B2B (business to business) e B2C (business to consumer). No que cabe em relação à P&D, modelos que utilizam GenAI podem acelerar o processo de desenvolvimento de produtos e materiais, especialmente nas indústrias química e farmacêutica, com economias de escala na ordem de até 15%.

Nas operações relacionadas a clientes, o GenAI tem potencial para automatizar em massa as interações com consumidores utilizando linguagem natural – você “conversa” com uma máquina como se fosse com um humano. Isso melhora a experiência do cliente e aumenta a produtividade dos operadores. O estudo em questão aponta para a possibilidade de redução de até 50% das necessidades de interação humana com a adoção de GenAI, potencializando a resolução de problemas e reduzindo o tempo gasto na condução do processo. Por fim, na engenharia de software, as soluções de GenAI podem, segundo o estudo da consultoria, gerar reduções de custos da ordem de até 45% para as empresas, de todos os portes, especialmente no que tange à geração e correção de códigos de programação. Em suma, deixam maior tempo livre para os profissionais humanos focarem na estratégia e na resolução dos problemas mais complexos de programação.

Como toda grande disrupção tecnológica, a adoção de sistemas e metodologias de GenAI gera insegurança e dúvidas que serão sanadas ao longo do processo de transição. O estudo da Mckinsey & Company aponta caminhos para esse processo, indicando que a adoção e investimento em infraestrutura adequada é o primeiro passo para adentrar nesse novo mundo. Todo o processo deve ser conduzido por pessoas talentosas, que deverão ser pinçadas e retidas na estrutura corporativa, e toda a transformação deve ser focada na geração de valor para a empresa e seus acionistas e consumidores, seja ela de qual porte for e em qual segmento estiver. Riscos e diretrizes envolvidas no processo deverão estar sempre no radar da liderança, devendo haver constante atualização do time sobre os novos produtos, contextos e riscos relacionados à inteligência artificial.

Como se percebe, a adoção e implementação de estratégias, elementos e produtos de GenAI nas corporações é, mais do que um diferencial, uma necessidade no contexto atual das organizações. A questão não é mais o se, mas quando e em qual medida a inteligência artificial afetará os negócios, de todos os portes e em todos os segmentos. É fato que o mercado de trabalho e a forma como trabalhamos serão profundamente afetados pelas soluções de GenAI, e cabe à liderança organizacional estabelecer as diretrizes e estratégias de atuação em relação ao tema. Bem-vindo ao mundo novo.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e consultor. Contato: [email protected]).

Publicado na edição 10.766, sábado a terça-feira, 24 a 27 de junho de 2023 – Ano 99