Madeira cheirosa

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Aniba rosaeodora ou pau-rosa é uma planta proveniente da Amazônia que foi utilizada durante muitos anos na produção de perfumes, entre eles o Chanel nº 5, eternizado por Marilyn Monroe que sempre ia dormir com duas de suas gotas para acordar no dia seguinte completamente perfumada.
Rico em linalol – importante fixador de fragrâncias – o pau-rosa começou a servir à indústria cosmética a partir da segunda metade da década de 1960, quando árvores nativas começaram a ser utilizadas massivamente. Durante os anos de produção cerca de 2 milhões dessas árvores forneceram enormes quantidades de óleo aromático para exportação, em ápices que atingiam as 500 toneladas/ano.
Análogo ao que acontecera a outras madeiras nobres, a irresponsabilidade de décadas a fio sobre a sustentabilidade da floresta fez com que o pau-rosa fosse considerado uma planta ameaçada de extinção, entrando para a lista de produtos controlados pela Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora (Cites).
Com produção irregular e sob pressão dos consumidores preocupados com a extinção da espécie, os perfumistas acabaram por retirar o substrato fornecido pelo pau-rosa das fórmulas dos perfumes, o que já tem perdurado por alguns anos. Entretanto, com uma nova visão sustentável que produtores da Amazônia têm vislumbrado para a produção de óleo do pau-rosa, possivelmente será possível reverter esse cenário negativo e fazer com que perfumes de marcas venham a ter novamente o substrato da espécie.

Processo simples

Maués é uma cidade do interior do Amazonas que já foi grande produtora de óleo de pau-rosa, contando com inúmeras empresas extratoras. Com o recesso extrativo das árvores, praticamente todas as empresas do ramo fecharam as suas portas, incluindo aí, a fábrica da família Magaldi.
Em 2012 eles puseram a velha fábrica em funcionamento, já que existem boas possibilidades de se voltar a produzir o óleo, agora de forma controlada. A ideia básica é aproveitar não só o tronco da árvore, mas as folhas e galhos que antes eram sumariamente desprezados. De um estoque de 11 mil árvores que começaram a plantar em 1989, os Magaldi querem aproveitar 200 árvores inteiras e mais os galhos e folhas de outras mil.
O processo de extração é realizado utilizando-se uma caldeira a vapor que alimenta um destilador onde os galhos e folhas são fervidos e o óleo extraído. Embora a tecnologia de extração seja a mesma de 50 anos atrás, a produtividade aumentou substancialmente, levando-se em consideração que nenhuma parte da árvore é desperdiçada no processo.

Floresta intacta

A ideia do aproveitamento total das árvores de pau-rosa surgiu em 2000 pelo químico Lauro Barata, pesquisador associado à Unicamp, quando fazia um trabalho sobre mercado produtor e consumidor para a Chanel. Entretanto, foi necessário quase uma década para ele mostrar e convencer produtores de que as folhas e os galhos tinham um grande valor para o processo de extração. Para se ter ideia, os troncos do pau-rosa fornecem em média 1% de óleo, enquanto que os galhos e folhas fornecem 1,8%, quase o dobro.
Contando com produções e extrações planejadas de árvores, produtores da Amazônia poderão obter e vender o óleo do pau-rosa sem derrubar uma única árvore da floresta, mantendo o ideal de sustentabilidade há muito requerido pelo planeta. Quem sabe em alguns anos a espécie até consiga sair da lista de plantas em extinção e se tornar uma alternativa para as culturas de soja e milho que hoje se expandem em grandes plantações da região.

(…)

Leia mais na edição nº 9833, dos dias 23 e 24 de abril 2015.