Marcelo Bosch Benetti dos Santos
A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemoração que ocorre anualmente desde 2008. O objetivo deste marco é convidar a sociedade a olhar para as questões acerca do autismo, estimulando o compromisso social e político junto às pessoas que sofrem deste transtorno, favorecendo seu processo de inclusão.
Há uma prevalência maior do autismo no sexo masculino, em uma proporção de um caso do sexo feminino para cada quatro casos do sexo masculino – motivo pelo qual a cor representativa do autismo é o azul.
O transtorno faz parte de uma categoria nosológica denominada de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), de acordo com a Classificação Internacional das Doenças, em sua décima edição (CID-10). Variações na nomenclatura e nos critérios diagnósticos podem existir, como acontece com o DSM-5, outro manual classificatório de psiquiatria conhecido mundialmente. Nele, o autismo faz parte dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA).
O diagnóstico é eminentemente clínico – ou seja, realizado mediante observação e descrição clínicas / comportamentais. Alterações ou condições médicas específicas detectadas em exames de laboratório ou de imagem cerebral podem estar associadas ao transtorno. Entretanto, tais constatações não são critérios para o diagnóstico, que deve ser estabelecido através dos aspectos comportamentais, independente de condições médicas presentes – que devem ser codificadas separadamente se houver.
Estes aspectos clínicos / comportamentais para o autismo consistem em comprometimentos importantes em três áreas: (1) interação social, (2) comunicação (envolvendo a qualidade do domínio da linguagem verbal) e (3) comportamentos, atividades e interesses, tidos como restritos, repetitivos e estereotipados.
Apesar dos avanços na compreensão dos fatores associados ao autismo, como os genéticos, o transtorno ainda é enigmático. Este caráter de enigma talvez seja, por um lado, o responsável por tanto mobilizar as pessoas a se interessarem pelo “ser autista”. O desconhecido ou o obscuro suscitam curiosidade, interesse e amor. Não à toa que, quando estamos amando ou apaixonados, o alvo deste amor é destituído de toda e qualquer falha, ou então elas são relegadas para um segundo, terceiro, quarto plano. Ou seja, a realidade das imperfeições da pessoa amada é ignorada, ou suplantada por idealizações. Nesse sentido, o não saber ou a ignorância podem ser tidos como a base do amor.
Isso nos ensina algo importante, na contramão de uma hegemonia científica que busca tanto sistematizar, delimitar e racionalizar as experiências humanas. A saber, que considerar a singularidade e as idiossincrasias das pessoas – portanto, o novo, o surpreendente e até mesmo o inominável, como também acontece com o “ser autista” – é o caminho para nos mantermos interessados por elas.
Assim, o “Dia Mundial de Conscientização do Autismo” também poderia ser chamado como o “Dia Mundial de Amor ao Ser Autista”.
(Colaboração de Marcelo Bosch Benetti dos Santos, Psicólogo, especialista em Psicologia Clínica, mestrando em Psicologia Clínica – PUC-SP).