O envelhecimento da população é um fenômeno global, e o Brasil não é exceção. Com o aumento da longevidade, cresce também o número de idosos polimedicados, ou seja, aqueles que utilizam múltiplos medicamentos simultaneamente para tratar suas condições crônicas. Nesse contexto, os Critérios de Beers, criados em 1991 pelo geriatra norte-americano Mark H. Beers, tornam-se ferramentas indispensáveis para a prática clínica.
O que são os Critérios de Beers
São uma lista de medicamentos considerados potencialmente inapropriados para idosos. Desenvolvidos inicialmente para residentes de casas de repouso, os critérios foram ampliados e atualizados para incluir toda a população idosa. Publicados pela primeira vez em 1991, eles são periodicamente revisados pela Sociedade Americana de Geriatria (AGS) para incorporar novos conhecimentos e avanços na farmacologia.
Os Critérios identificam substâncias que podem causar mais riscos do que benefícios nessa faixa etária, seja por aumento de efeitos adversos, interações medicamentosas ou pela diminuição da eficácia. O objetivo é melhorar a segurança do paciente e reduzir as complicações relacionadas ao uso inadequado de medicamentos.
Entre as principais classes de medicamentos listadas estão:
- Benzodiazepínicos e hipnóticos: associados a quedas, confusão mental e risco de demência.
- Anticolinérgicos: conhecidos por causar efeitos colaterais como retenção urinária, boca seca e piora cognitiva.
- Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs): que podem aumentar o risco de sangramentos e insuficiência renal.
O problema da negligência
Embora os Critérios de Beers sejam amplamente conhecidos na literatura médica, ainda são negligenciados em diversos cenários de saúde. Muitos profissionais não os consultam ao prescrever medicamentos, e pacientes, muitas vezes, não recebem orientações adequadas. Isso resulta em problemas graves, como
Eventos adversos evitáveis: quedas, internações e até morte; Exacerbação de doenças crônicas: medicamentos inadequados podem piorar quadros como insuficiência cardíaca, demência e diabetes; Custo elevado à saúde pública: internações e tratamentos adicionais geram peso financeiro significativo.
O papel do farmacêutico clínico
A inclusão do farmacêutico clínico na equipe multidisciplinar é essencial para a aplicação dos Critérios de Beers. Esse profissional avalia as prescrições, identifica potenciais interações medicamentosas e sugere alternativas terapêuticas mais seguras para o idoso. Além disso, pode promover a educação do paciente e da família, orientando sobre o uso correto dos medicamentos e reforçando a importância do acompanhamento contínuo.
Caminhos para o futuro
A conscientização sobre os Critérios de Beers precisa ser ampliada e isso inclui: Capacitação dos profissionais de saúde: inserir treinamentos sobre o uso seguro de medicamentos para idosos em cursos de graduação e especialização; Incorporação sistemática dos Critérios de Beers na prática clínica: através de ferramentas digitais que facilitem o acesso à lista durante a prescrição; Sensibilização da população: campanhas educativas podem ajudar os idosos e seus cuidadores a questionarem a adequação de suas terapias.
Então, a conclusão é:
Desde sua criação em 1991, os Critérios de Beers vêm demonstrando ser uma ferramenta poderosa para melhorar a segurança medicamentosa na população idosa. Negligenciar essa lista é negligenciar a saúde e a qualidade de vida dos nossos idosos. O cuidado com essa faixa etária exige atenção redobrada e um olhar multidisciplinar que priorize a segurança e o bem-estar. É papel de todos os profissionais de saúde, especialmente do farmacêutico clínico, garantir que os medicamentos sejam aliados, e não inimigos, na busca por um envelhecimento saudável.
Se você ou um familiar idoso utiliza medicamentos de forma contínua, é essencial revisar a farmacoterapia regularmente. Como farmacêutico clínico, ofereço serviço especializado de revisão de medicamentos, capaz de identificar problemas como interações perigosas, medicamentos desnecessários ou potencialmente inapropriados, além de sugerir alternativas seguras.
(Colaboração de Dr Luiz Antônio da Assunção, Farmacêutico e Bioquímico, CRF 23.110 SP).
Publicado na edição 10.892, sábado a sexta-feira, 7 a 13 de dezembro de 2024 – Ano 100