Antônio Carlos Álvares da Silva
Estou escrevendo este artigo, quinta-feira, dia 2, quando está se iniciando o julgamento do escândalo chamado “Mensalão”. Diante dos posteriores atos de corrupção do governo federal, nos últimos anos, esse julgamento não deveria chamar tanta atenção, mas, a presença de José Dirceu entre os réus, classificado de “chefe da quadrilha” e outros dirigentes do PT, fez esse processo ganhar destaque na imprensa. Especialmente, depois que o PT e a chamada Juventude Socialista tentaram blindar José Dirceu, ameaçando ir às ruas protestar contra seu julgamento. O discurso foi relembrar o passado “revolucionário” de seu chefe e ícone. Acho irônico, como José Dirceu conseguiu passar toda a sua vida, vivendo dessa impostura. Ele nunca foi nenhum revolucionário. Iniciado o regime militar, ele foi para Cuba. Lá, fez uma operação plástica, para mudar seu rosto. Voltou para o Brasil, casou e foi morar em uma pequena cidade do Paraná, onde montou uma loja de roupas e tecidos. Qualquer pessoa deduz: Em uma cidade pequena do Paraná, 50 anos atrás, não havia ambiente, nem espaço, para qualquer atividade revolucionária. Existe uma prova irrefutável disso: Sua mulher nunca ficou sabendo de seu passado e de sua atividade política. Para usar um paradoxo, para ela, José Dirceu era apenas um pequeno burguês do ramo de armarinhos. Somente com a democratização do país, essa atividade política veio a publico, através da militância no PT. Ela o levou até a Chefia da Casa Civil, no primeiro governo de Lula, de onde saiu pelo escândalo do Mensalão. Então, inventou uma outra atividade, que virou moda no PT. Tornou-se consultor de empresas e empreiteiras, sempre mantidas no anonimato, sobre assuntos nunca nada definidos. A imprensa já divulgou as grandes boladas, que ele recebeu por essas consultorias, o que permitiu levar uma vida faustosa (viagens de jatinho etc.). Quando estourou o escândalo do mensalão, ele deixou a Chefia da Casa Civil denunciado por Roberto Jefferson, presidente do PTB. Voltou para a Câmara dos Deputados, onde o PT já detinha ampla maioria. A repercussão fez outros deputados do partido renunciarem. Então, para tentar por fim ao noticiário, a Câmara tomou uma solução inusitada: Cassou os mandatos de José Dirceu e de Roberto Jefferson e trancou a porta de todas as outras investigações. Com isso, além da fortuna identificada pela denúncia de Roberto Jefferson, segundo o deputado Onix Lorenzoni, mais de 100 milhões, que passaram pelas contas de Marcos Valério, deixaram de ser identificados (Estadão, 27/07-02). Apenas, Duda Mendonça diz ter recebido 10 milhões, depositados em conta no exterior, como parte do pagamento por seu trabalho na campanha eleitoral de Lula. É réu no mensalão. Sua defesa: Valério depositou no exterior, porque quis. Eu não mandei.
A evidência é evidente?
O processo do Mensalão vai mostrar, que até a evidência (certeza manifesta) será questionada. Já mostra esse fato a situação do ministro Dias Toffoli, nomeado por Lula para o STF. Antes, ele havia trabalhado 15 anos como advogado do PT, que tem vários réus sendo processados. Além disso trabalhou como assessor de Lula em campanhas eleitorais e ocupou a subchefia da Casa Civil, quando o chefe era José Dirceu. Para completar, sua companheira atuou na defesa de 3 réus do processo: José Dirceu, professor Luizinho e Paulo Rocha. Por esses antecedentes, qualquer jurista sensato opinaria, que ele deveria se declarar suspeito de participar do julgamento, em obediência às normas processuais vigentes. Até hoje, ele não se definiu. Os jornais noticiaram, que Lula usou toda a sua descompostura, para pedir-lhe, que ficasse. Se ele é petista de fato, vai obedecer à sua consciência. Pena, que ela se chame Luiz Inácio Lula da Silva. Aliás, foi publicado, que a defesa será jogar a totalidade da culpa nas costas do seu ex-tesoureiro, Delúbio Soares. Todos os outros diretores, inclusive o inefável presidente José Genoino assinavam as operações com Marcos Valério, sem saber de nada. Nadinha, nadinha!
E já que a coisa anda nesse nível, o revolucionário José Dirceu anunciou sua defesa: O mensalão nunca existiu! Foi injustiça ele ter se demitido da Chefia da Casa Civil, ter sido acusado por Roberto Jefferson e ter sido cassado pela Câmara de Deputados. Isso, está fazendo eu me lembrar de uma história, que era contada em Bebedouro, há mais de 60 anos. Nunca se soube, se era verdadeira, porque esses episódios não têm testemunhas. Falavam, que um altaneiro senhor chamado Berto Junqueira, certa vez foi surpreendido por sua mulher, dando o maior “amasso” em sua secretária. Diante do quadro, ele não teve dúvida. Clamou com toda a circunspecção: “Jovelina, isso que você está vendo, é tudo mentira!
(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, bebedourense, advogado).
Publicado na edição n° 9433, dos dias 4, 5 e 6 de agosto de 2012.