No início da década de 1930 foi fundada em Bebedouro a “Faculdade de Farmácia e Odontologia Siqueira Campos”, como iniciativa do dr. Sylvino Costa Moraes, sendo instalada no prédio da rua Prudente de Moraes, n. 204, esquina com a rua Dr. Brandão Veras.
Em dezembro de 1933, a instituição entraria com pedido no Ministério da Educação para inspeção preliminar visando o reconhecimento da referida faculdade, sendo logo nomeado um avaliador para proceder com a vistoria.
Com o reconhecimento, em abril do ano seguinte ocorreu a cerimônia de colação de grau da primeira turma de farmacêuticos e odontólogos. Conforme divulgado na imprensa, a programação teve início no período da manhã, com a celebração de uma missa em ação de graças na Igreja Matriz; no final da tarde, na instalação da própria Faculdade, houve colação de grau, seguida de confraternização entre os presentes com mesa de doces e chopp. Finalmente, à noite, baile dos formandos na sede social do “Círcolo Italiano”.
Os dez diplomados da primeira turma do curso de Pharmácia foram Albertina Grassi, Maria L. Pimenta Menniti, Lucília Ferreira Martins, Maria Júlia Costa, Adelaide Fernandes, Amur Gabriel, João W. Costa, José Guimarães, Zeno A. Lima e Ludovico Borges.
Na primeira turma do curso de Odontologia, foram dezessete diplomados: Pedro Menniti, Ideval Silva, Eduardo Abud, Romeu Cambesia, Kika Cace (formada também pela Universidade Kobe, do Japão), José Leite, Luis Melingeni, Orlando Caruso, Campiro de Castro, Ariovaldo Correia, Annibal Seixas, José Dias, José A. Freitas, Amadeu Christoforo, Cherubim Fuginet, Nelson Martins Caetano e Clemente Oliveira.
No final do mesmo ano de 1934, era anunciada a colação de grau da segunda turma de cada curso: “Deve realizar-se por estes dias, a festa de formatura de mais uma turma de pharmaceuticos e dentistas. […] No grande quadro exposto há dias no Bar São Paulo figuram, além dos lentes, paranynphos, director e homenageados, os retratos dos seguintes alunos […]”, seguindo uma lista com nove formandos do curso de Farmácia, e dezoito do curso de Odontologia.
Apesar da boa aceitação dos cursos oferecidos pela Faculdade por parte dos bebedourenses e munícipes vizinhos, a instituição teve que enfrentar várias dificuldades, tanto no âmbito político como no aspecto estrutural e administrativo, o que muitas vezes gerou rumores sobre seu possível fechamento.
Tais dificuldades resultaram na venda do estabelecimento com todo seu acervo a uma associação, em março de 1935, quando a escola passou a ter nova diretoria, que se comprometeu a promover importantes mudanças, a fim de assegurar nova inspeção preliminar necessária para reconhecimento dos diplomas emitidos pela Faculdade.
À frente do trabalho de reorganização técnica e administrativa estiveram o dr. Ricardo Marcondes Machado, prefeito municipal e cirurgião-dentista, e o professor Oscar Rodrigues de Freitas, que estivera também na direção da Escola Normal do Colégio Anjo da Guarda e da Academia Comercial de Bebedouro. Além destes, faziam parte da sociedade, o tabelião Jayme de Salles Macuco e Aristides Dinamarco.
O antigo diretor e proprietário dr. Sylvino Costa Moraes optou por retirar-se da instituição, transferindo-a ao novo grupo e mudando-se para São Paulo, onde continuou a exercer a profissão de dentista e professor.
Entre as medidas adotadas pela nova direção houve a reorganização do corpo docente com inclusão de médicos, farmacêuticos e cirurgiões-dentistas reconhecidos como professores das respectivas especialidades.
Uma das atividades acadêmicas de destaque foi a prestação de serviços à comunidade por uma clínica dentária e respectiva assistência, com atendimento aos interessados em usufruir dos valores reduzidos nos tratamentos dentários, ou oferecidos gratuitamente àqueles reconhecidamente sem recursos.
Foi neste novo cenário que a instituição recebeu durante uma semana do mês de abril de 1936, a visita de um funcionário do Ministério da Educação, a fim de realizar a inspeção prévia da Faculdade. Após a elaboração de um detalhado relatório sobre a instituição, o avaliador retornou à capital, deixando muita expectativa na comunidade acadêmica quanto ao resultado.
Apesar dos esforços dos dirigentes e das mudanças empreendidas, em dezembro daquele ano, o Conselho Nacional de Educação publicou parecer da Comissão de Ensino Superior, “contrário à concessão de inspeção preliminar à Faculdade de Farmácia e Odontologia de Bebedouro.”
Esta decisão resultou no fechamento da instituição e no rompimento da oferta de ensino superior em Bebedouro, situação que mudaria somente depois de mais de trinta anos, com a fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Bebedouro, em 1970.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.)
Publicado na edição 10.704, de sexta a terça-feira, 30 de setembro a 4 de outubro de 2022.