O MEC (Ministério da Educação) divulgou em 30 de agosto, o resultado do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), referente à prova aplicada em 2017 aos mais de 5,4 milhões de alunos do ensino fundamental e médio.
Como resultado, mais da metade dos estudantes entre 14 e 17 anos, não aprenderam praticamente nada do esperado para as séries, nas disciplinas de português e matemática. Entre os jovens do último ano do ensino médio, a situação é ainda mais grave. Foi apontado que eles não sabem identificar a informação principal de uma reportagem ou calcular porcentagem.
Atrelado a esse descaso pelo qual passa a educação no Brasil, pessoas preocupadas com o aproveitamento e o rendimento das crianças e adolescentes nas escolas deveria ser notório. Mas não é.
Mais um feriado que poderia ser como outro qualquer, em uma pacata cidadezinha do interior paulista. Taiúva, com pouco mais de cinco mil habitantes, passa o feriado de independência em meio a campanhas políticas nas redes sociais e, também no boca a boca, já que em uma cidade pequena, onde todos se esbarram, esse expediente é possível.
O curioso é que a campanha política que cerca a cidade não é a que todos estamos vendo diariamente para eleger, em 7 de outubro, presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais, mas sim para uma vaga no Conselho Tutelar da cidade.
Cerca de 14 candidatos concorrem à vaga. Os questionamentos aos candidatos é o mesmo que se faz aos políticos que querem governar o país, a partir de 2019. Por qual motivo quer ocupar este cargo?
A resposta parece não existir. Por viver nesta cidade há 22 anos, é natural que conheça as pessoas inscritas para o cargo de conselheiro tutelar e, exatamente por saber quem são, arrisco-me a dizer que nenhum deles possui formação ou ocupa qualquer cargo nas áreas educacional ou assistencial. Arrisco-me a dizer ainda, que nenhum deles tem conhecimento do resultado recente da pesquisa citada no início deste artigo, sobre a educação brasileira e a situação em que encontram-se as crianças e os jovens deste país. Então, por que será que cada um deles quer esta vaga?
Alguns candidatos chegam a afirmar em suas redes sociais, para pedir votos, que são apaixonados por crianças. Mas será que o fato de gostar de criança é suficiente para assumir um cargo de tamanha responsabilidade? O que querem, de fato, esses cidadãos à frente de um Conselho Tutelar?
Nenhum deles apresentou propostas. Nenhum deles citou uma pesquisa, uma lei, ou qualquer tipo de situação em que vivem crianças e adolescentes taiuvenses. Nenhum deles defende um projeto para crianças e adolescentes de forma correta na vida escoa incluí-los na sociedade. Nenhum. Isso deixa claro que, ocupar o cargo para fazer mudanças é a última coisa que querem.
Será que cada um deles, candidatos, sabem do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)? Conhecem ao pé da letra esses direitos e, por fim, sabem o importante e fundamental papel do Conselho Tutelar dentro da sociedade? Vale lembrar que, o cargo é remunerado, o vencedor desta eleição terá, em sua conta bancária, mês a mês, um salário mínimo complementado com vale alimentação. Será este o real interesse? Respostas que os cidadãos taiuvenses não conhecerão as respostas.
E não as terão porque não querem ter. Muitos irão até o local de votação em 23 de setembro e depositarão na urna, seu voto, sem saber o real valor dele. A culpa começa antes das candidaturas, começa em quem vota, sem ao menos questioná-los sobre o que realmente querem fazer no cargo. A culpa pode ser atribuída ainda ao poder público, que não avalia os candidatos, antes que eles se inscrevam para esta eleição. Afinal, de quem é a culpa mesmo? Em 23 de setembro, a cidade elegerá um deles para ocupar o cargo e assegurar que os direitos das crianças e dos adolescentes taiuvenses sejam cumpridos. Duas semanas depois, esses mesmos eleitores irão às urnas, junto a milhões de brasileiros, decidir, nas mãos de quem, o Brasil ficará. Se for seguir o raciocínio das últimas pesquisas, será nas mãos do retrocesso. O que se conclui é que, não importa se é em nível nacional ou municipal, as eleições são as mesmas, e pior, os eleitores vão às urnas eleger quem não tem conhecimento para transformar.
Colaboração de Marcos Pitta, jornalista.
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Leia mais na edição nº 10310, de 13 e 14 de setembro de 2018.