O elemento fundamental

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Estima-se que a Terra possua 4,6 bilhões de anos. Se a humanidade não a destruir antes, possivelmente ela vai se sustentar por um período semelhante ou um pouco menor do que esse. Acontece que o Sol vai se transformar em um astro sem vida daqui a 5 bilhões de anos. Nesse processo de transformação, a Terra será literalmente engolida por uma de suas explosões fazendo com que sua superfície se torne incandescente e completamente inóspita para a sobrevivência de qualquer tipo de vida. Será como um retorno ao princípio, quando existiam por aqui somente rochas que queimavam dia e noite.
De certa forma é admirável ver a Terra hoje, com sua extensa biodiversidade e compará-la ao que foi um dia e ao que será ainda em um futuro longínquo. Essa biodiversidade pode ser creditada a um conjunto de elementos, que conjugados no tempo e no espaço, permitiram o seu surgimento e evolução. Entretanto, um deles foi fundamental: o oxigênio.

A atmosfera da vida

Há alguns anos um grupo internacional de pesquisadores, no qual o geólogo brasileiro Carlos Alberto Rosière fez parte, publicou na revista científica Nature, um artigo que dava conta sobre o surgimento do oxigênio na atmosfera terrestre. Para os leigos em ciência seria incomum pensar que a Terra criou-se sem esse precioso elemento, mas o fato que a equipe tentou demonstrar em sua pesquisa é que o oxigênio não só não existia (ou existia em quantidade irrelevante), como surgiu muito depois da estabilização da Terra como um planeta propício à vida.
Pelas contas da equipe, que utilizaram rochas como objetos de pesquisa, o oxigênio começou a acumular-se em alta concentração na atmosfera terrestre por volta de 2,48 bilhões de anos atrás. A partir daí, o volume aumentou muito rapidamente, chegando às condições, as quais vivemos hoje.

Vida gerando vida

De acordo com os pesquisadores, ironicamente a história da abundância de oxigênio e vida na Terra iniciou-se pela própria vida que aqui existia naquela ocasião, formada principalmente por bactérias como as algas azuis, seres unicelulares que vivem nos oceanos. Como é de conhecimento, esses organismos são capazes de realizar a fotossíntese a partir do dióxido de carbono e da luz, gerando como subproduto, o oxigênio.
No início, a produção do oxigênio pelas algas era consumida quase que totalmente pelo ferro contido nas rochas e nos oceanos, cuja reação resultava no ferro oxidado que seria depositado por milhões de anos nos leitos oceânicos. Somente quando as rochas e o oceano já não tinham mais como absorver o oxigênio, pois estavam saturados, é que esse elemento começou a se acumular no ar e criar uma atmosfera que propiciou a diversidade e complexidade da vida na Terra. A esse importante evento deu-se o nome de a grande oxigenação.

Nem tudo está resolvido

Mesmo esse estudo corroborando com análises anteriores não põe um ponto final ao assunto. De acordo com os pesquisadores, resistências e refutações poderão aparecer, principalmente aquelas que alegam que o estudo ficou circunscrito a um determinado local e não a todo o planeta.
Como na arqueologia, a geologia também evolui a partir de novas evidências, as quais permitem reescrever a história da vida. Portanto, a ciência tem sempre que dar asas à dúvida e ao futuro para não se comprometer com um mundo obscurecido pelos mistérios restritos da ignorância.
Que venham as novas pesquisas e as novas evidências!

Publicado na edição nº 9729, dos dias 7 e 8 de agosto de 2014.