O elo perdido

Wagner Zaparoli

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A ficção científica costumeiramente esteve sempre à frente dos acontecimentos naturais que envolveram o homem e o universo que o mantém. A mente pródiga e imaginativa de alguns pensadores – cientistas ou não – levaram muitos de nós a sonhar com um futuro bem diferente daquele que estamos vivendo.

Lembram-se do Nautilus, submarino do Capitão Nemo? Quem não gostaria de explorar o fundo do mar numa embarcação como aquela? E da Enterprise do Capitão Kirk, quem não gostaria de explorar o infinito do Universo numa nave como aquela?

Às vezes, a vontade do homem que fica reprimida pelas pressões do cotidiano, acha uma vazante pela luz da ficção. Talvez isso tenha ocorrido com o assunto robótica, que de longa data – pelo menos meados do século XX – vem fazendo o homem refletir sobre as suas relações com a tecnologia.

Será que um dia os robôs serão a imagem e semelhança do homem, como o homem o é em relação a Deus, de acordo com as sagradas escrituras? Será que um dia eles serão mais inteligentes que a raça humana, fazendo-a seus humildes servos? Ou será que o homem jamais conseguirá replicar a sua inteligência numa parafernália tecnológica, a não ser através da fugacidade da ficção?

O que existe de fato

Robô, de acordo com a Wikipédia é um dispositivo mecânico que executa tarefas automatizadas através da supervisão humana direta, de um programa predefinido ou um conjunto de guias que usam inteligência artificial.

Provavelmente, o primeiro aparato considerado um robô foi a “tartaruga robótica” criada por Grey Walter em 1950. Daquele ano aos dias atuais, o conceito de robô foi evoluindo: até o final dos anos de 1980 existiam os robôs manipuladores, como aqueles utilizados em montadoras para pintura automotiva; nos anos de 1990 surgiram os robôs móveis equipados com sensores com autonomia para escolher suas trajetórias, como os jipes enviados ao planeta Marte; e mais recentemente surgiram os robôs híbridos, que contemplam tanto a manipulação quanto a mobilidade, principalmente baseados em plataformas de inteligência artificial.

A evolução

Ao longo de mais de meio século os robôs passaram a desempenhar importantes papéis no contexto científico. A exploração espacial, como citado acima, é um bom exemplo. Outra área de destaque é a medicina, com a utilização dos robôs cirúrgicos, os quais têm habilidade para executar micro incisões através de comandos remotos. A biomedicina também serve como exemplo, já que nos laboratórios existe uma larga automação robótica que executa procedimentos precisos e confiáveis, diminuindo sensivelmente a chance de contaminação das amostras.

Entretanto, uma das áreas tecnológicas que mais potencial de crescimento tem apresentado é a robótica doméstica, principalmente nos continentes asiático e europeu. A idéia é que a robótica para a indústria já é um paradigma ultrapassado. Os robôs agora têm que aumentar a sua interação com o homem, cooperando em suas atividades cotidianas e sendo uma perfeita extensão das habilidades humanas.

Tentativas não faltam, principalmente na indústria japonesa, onde empresas como Fujitsu, Toyota e Sony investem milhões de dólares para criar o melhor serviçal do homem. Os EUA, a Alemanha e a Inglaterra também não ficam atrás, destinando parte do PIB em pesquisas na área.

O Brasil, embora tenha evoluído na adoção dos robôs nos últimos anos, ainda está longe da média mundial. Se na Coreia do Sul existem pouco mais de 900 robôs para cada 10 mil trabalhadores, no Brasil esse número gira em torno de nove para os mesmos 10 mil. Aqui ainda prevalece a idéia de que os robôs só roubam empregos.

Um ponto de inflexão

Isaac Asimov, com a sua coletânea de 1950 transformada no filme “Eu, robô”, abriu uma fresta no pensamento humano sobre as possibilidades dos robôs num futuro qualquer, virem a nos dominar pela força e pela inteligência. Certamente essa discussão ainda ecoa mais nos meios ficcionais do que nos meios científicos. Atualmente nada, mas nada mesmo, indica que seremos capazes de juntar um elo perdido à inteligência das máquinas: a emoção.

Sem ela, os robôs não vão passar de meras máquinas sofisticadas, escravas eternas do homem.

E para quem gosta de história aliada a novidades, dê uma olhadinha nesse link https://area21.org.br/breve-historia-dos-robos/.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição nº 10.747, sexta a terça-feira, 7 a 11 de abril de 2023