
A cidade de Bebedouro despertou na manhã de 21 de junho de 1921 com uma notícia pavorosa: um conhecido casal de septuagenários fora brutalmente assassinado, além de uma criança ter sido gravemente ferida, sendo desconhecida a autoria do crime, bem como a motivação e a forma como acontecera.
O fato ocorreu na residência das vítimas, localizada na rua Botafogo (atual Francisco Inácio). Na parte da frente do imóvel funcionava o estabelecimento “Chalet da Sorte”, com venda de bilhetes de loteria e charutaria, pertencente a Joaquim Fernandes Ribeiro, que anteriormente morara em Jaboticabal e Sorocaba, origem da alcunha “Sorocabano”, pela qual era conhecido. Vivia na casa contigua ao comércio com a esposa inválida Benedita Seilwalbuck, além de uma menina adotada pelo casal, chamada Maria Clemência, com cerca de oito anos de idade.
O crime foi descoberto pelo entregador de leite, que após chamar o comerciante e não ser atendido, estranhou o silêncio e decidiu entrar na casa, cuja porta estava apenas encostada.
Ao adentrar na residência, logo na sala se deparou com o corpo sem vida do velho Sorocabano em uma grande poça de sangue. Diante da cena, saiu à rua gritando por socorro, o que fez com que a vizinhança saísse às janelas e muitos curiosos fossem até o imóvel.
Logo compareceu o delegado em exercício Bento Domingues de Castro que, acompanhado por populares, penetrou no domicílio e confirmou o assassinato do Sorocabano, assim como o da esposa, que jazia sobre a cama no quarto do casal. Em um quarto ao lado encontraram a menina agonizante. Todos os corpos apresentavam vários ferimentos e cortes profundos, não sendo percebido o uso de armas de fogo.
Observaram que todos os cômodos da residência estavam em desordem, sendo que as gavetas, armários, caixas, baús e malas estavam revolvidos, dando a entender que os criminosos procuravam objetos de valor.
Inicialmente os corpos foram avaliados pelo médico dr. José de Toledo Mello, mas foi requisitada a vinda de um médico legista da Delegacia Regional de Araraquara, que procedeu com as autópsias no dia seguinte, liberando-os para os sepultamentos.
Os fatos colocaram a cidade em alvoroço, muitas especulações foram feitas em torno do caso, sendo que a imprensa local dedicou várias páginas ao acontecimento e seus desdobramentos, que também repercutiu na imprensa da capital do Estado.
No entanto, apesar de todas as investigações, seguindo todas as pistas possíveis, inclusive algumas informações prestadas pela menina Maria, que aos poucos se recuperou dos ferimentos, o mistério sobre a autoria do crime persistiu por vários meses.
Eis que, porém, após quase um ano do acontecido, subitamente ocorreu uma denúncia que permitiu a elucidação dos fatos. Na manhã de 11 de maio de 1922, o prof. Norberto de Castro, subdelegado de polícia, foi procurado pelo carpinteiro Simão Theodoro, que narrou uma conversa que ouvira na véspera, indicando nomes de envolvidos e circunstâncias do crime,
Com tais informações, o subdelegado entrou em entendimento com o delegado Cel. Alexandre Pulino, e realizou diligências com agentes policiais, o que resultou na prisão de três suspeitos: Chico Mariano, Joaquim José Ferreira e Justo Teixeira.
Nos interrogatórios, as informações que apresentaram foram contraditórias, mas após novas diligências policiais e confrontados todos os depoimentos, os três confessaram a autoria do crime.
Conforme relataram, acreditavam que devido ao tipo de comércio que realizava, Joaquim Sorocabano deveria ter muitas posses, principalmente dinheiro e joias que poderiam estar guardados na residência. Tal suposição gerou o planejamento do roubo que, apesar de ter deixado duas vítimas fatais, não foi bem-sucedido quanto aos bens materiais encontrados, muito aquém do que os criminosos imaginavam.
Com a resolução dos fatos, os autores dos assassinatos foram levados para julgamento pelo tribunal do júri no Fórum local, nos dias 26 e 27 de julho do mesmo ano. Nenhum dos réus tinha advogado e sendo assim, o juiz nomeou os bacharéis Arthur Siqueira Mendes, Diogo Júnior e Norberto Rangel para defenderem respectivamente a Francisco Mariano, Joaquim Ferreira e Justo Teixeira. Ao término das sessões, todos foram condenados à prisão, e enquanto para o primeiro e o segundo a pena foi de 30 anos, para o terceiro foi de 25 ½ anos de prisão.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.799, de sábado a quarta-feira, 28 de a 1º de novembro de 2023 – Ano 99