O Império, a República, o futuro

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Benedicto Ismael C. Dutra

No turbilhão dos acontecimentos, quem ainda quer saber das coisas do passado, coisas que aconteceram há mais de cem anos como a proclamação da República do Brasil? No entanto, conhecer a história nos capacita a compreender muitas coisas, percebendo onde as linhas se entortaram, gerando consequências negativas para os dias atuais.
A Proclamação da República Brasileira foi um ato de levante político-militar, ocorrido em 15 de novembro de 1889 e que destituiu a Imperador Dom Pedro II, ele que havia contornado poderosos interesses, consolidando uma nação politicamente independente. Por que D. Pedro II foi destituído? Quais os fatores que levaram o exército a derrubar a monarquia?
Os banqueiros ingleses se aproveitaram da situação, pois em função das elevadas despesas com a guerra do Paraguai, o Império elevou a sua dívida externa para cerca de 20 milhões de libras esterlinas. O Império perdeu o apoio da elite econômica que se opunha à abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem que houvesse indenização aos proprietários de escravos. Havia também uma divergência com interesses da Igreja Católica, cujo apoio era essencial para a conservação do poder imperial. O país se mantinha estagnado, dependente das exportações de açúcar e café. Não havia um sistema de ensino básico, e a população permanecia analfabeta e inculta.
Os fazendeiros haviam destruído totalmente a cobertura de mata atlântica em extensas áreas do Rio de Janeiro e explorado o solo de forma intensiva dilapidando a sua fertilidade, levavam uma vida faustosa com luxo e desperdícios. Com o surgimento de concorrência e crises no mercado externo, passaram a contrair empréstimos bancários para sustentar o luxo. Com a queda nas vendas começou a faltar recursos para pagar os empréstimos, e veio a decadência.
Com a libertação dos escravos e a estagnação da lavoura cafeeira, a população ficou sem rumo, indo muitos se alojar no Rio de Janeiro em moradias precárias, refugiando-se mais tarde nos morros.
A telenovela Lado a Lado, em exibição pela Rede Globo, escrita por João Ximenes Braga e Cláudia Lage, apresenta uma visão do Brasil no período entre os séculos XIX e XX, focalizando o início da República, tumultuada pela desorganização social decorrente da desordenada saída do sistema escravocrata. Essa é uma parte forte da estória por mostrar as precárias bases e falta de maior atenção no preparo da população brasileira. No final do século XVIII, tinham início os primeiros assentamentos chamados de “bairros africanos”. Estes eram os lugares onde ex-escravos sem terras e sem opções de trabalho iam morar. A falta de uma política pública habitacional e a eliminação dos cortiços propiciou o surgimento das moradias inadequadas nos morros (favelas), separando os letrados que podiam estudar e os analfabetos, precariedade que vem se arrastando por longo período, mas que precisa ser eliminada com eficiência para que o Brasil possa cumprir o papel que lhe cabe neste conturbado momento da civilização.
Com a decretação da Lei Áurea, em 1888, e ao deixar de indenizar esses grandes proprietários rurais, o império perdeu o apoio dos ex-proprietários de escravos, como sua “vingança” contra a monarquia. A adesão dos ex-proprietários de escravos, à causa republicana evidencia o quanto o regime imperial estava atrelado à escravatura. Assim, logo após a princesa Isabel ter assinado a Lei Áurea, João Mauricio Wanderley, Barão de Cotegipe, o único senador do império que votou contra o projeto de abolição da escravatura, profetizou: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder um trono!”
Desde sempre o Brasil se caracterizou pela forma amistosa e alegre de sua gente. Os índios, aqui existentes na época do descobrimento, não conheciam a inveja nem a desconfiança. Por isso, caíam ingenuamente nos engodos do conquistador branco. Com alegria festejaram a chegada dos brancos, estes, porém, trouxeram consigo a cobiça, vícios e o germe da destruição. Sedentos do ouro violentaram as mulheres e escravizaram os homens. Depois trouxeram os africanos para o trabalho escravo. A região que era considerada a terra da felicidade, e que deveria evoluir com a chegada do homem branco, contraiu uma pesada dívida espiritual atraindo decadência, sofrimento e miséria. Temos de reparar os males do passado, criando aqui uma região de paz, progresso e harmonia. Temos de ser uma fonte inspiradora para aqueles que não se submetem mais a intelectualidade fria e sem coração, e procuram uma região onde possam construir um lar humano em paz.

(Colaboração de Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, articulista, um dos coordenadores do www.library.com.br, e autor de livros. E-mail: [email protected]).

 

Publicado na edição n° 9477, dos dias 22 e 23 de novembro de 2012.