O feijão, em especial, o carioquinha, é um elemento praticamente indispensável às refeições do brasileiro. Para se ter idéia, a nossa população consumiu em 2013, cerca de 3,5 milhões de toneladas de feijão, o que gerou um consumo per capita de 16 kg no ano. Embora o consumo tenha caído ante 2012, o país ainda lidera o ranking de maior consumidor de feijão no mundo.
Por outro lado, a produção nacional do produto, que também já liderou o ranking mundial, atualmente está aquém das necessidades de consumo. Segundo a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), na safra de 2012/2013 o Brasil plantou 3,11 milhões de hectares de feijão e colheu apenas 2,8 milhões de toneladas.
Essa defasagem na balança impeliu o governo a importar feijão de países como a China, Argentina e Bolívia, e de acordo com o diretor de Assuntos Comerciais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Benedito Rosa, para não desabastecer o mercado, a medida pode se tornar tendência nos próximos anos. Conseqüência imediata: a famosa feijoada das quartas e dos sábados pode ficar mais apimentada, com o preço em alta.
Regulando as perdas
A efetividade da produção de feijão no país concorre com alguns percalços de amplo desgaste aos produtores rurais. Para se ter idéia, por baixo, a perda nacional gira em torno de 90 a 290 toneladas por ano, o que equivale a encher o prato de 9 a 18 milhões de pessoas.
Dois desses percalços se destacam dos demais pelo tamanho do estrago provocado: a lagarta Helicoverpa armigera e o fungo mosaico dourado. A lagarta Helicoverpa, que é depositada nas lavouras por mariposas em forma de ovos, costuma ter alto poder destrutivo, seja na folhagem, como também nas vagens. Já o mosaico dourado é transmitido à plantação através da mosca-branca e costuma dizimar a planta por uma infestação virótica.
Como as pragas possuem diferentes naturezas, os seus respectivos combates diferenciam-se na estratégia e na tática. Para a lagarta, um bom manejo da cultura associado ao uso racional de reguladores biológicos e inseticidas químicos costumam apresentar bons resultados. Já em relação ao mosaico dourado, a manipulação genética entra em ação.
O transgênico nacional
A Embrapa, que vem estudando o mosaico dourado há vários anos, apresentou um caminho para derrotar definitivamente essa praga das plantações nacionais, o qual poderá ser utilizado já em 2014. Trata-se do feijão transgênico GM.
Para entender a diferença básica entre esse feijão e o feijão tradicional, basta saber que o transgênico carrega uma transformação em sua molécula de DNA. No caso do GM, pesquisadores colocaram no DNA, trechos do material genético do próprio vírus denominados RNAs, que provocam uma reação natural da planta quando atacada pelo vírus verdadeiro.
Com essa artimanha genética, pesquisadores da Embrapa afirmam que perdas na produtividade das culturas do feijão devido ao mosaico dourado serão apenas estatísticas do passado. Afirmam também que esse novo tipo de feijão não prejudica a saúde da população que o consumir, mesmo com os recentes estudos chineses que indicam que o RNA inserido nas plantas artificialmente, continua presente no sangue de quem as consome.
Enfim, se as expectativas de pesquisadores e produtores em relação ao GM se tornarem realidade neste ano, podemos começar a cantar em alto e bom som “água no feijão, que chegou mais um, chegou mais um, chegou mais um”. É esperar para ver.
Publicado na edição nº 9681, dos dias 10 e 11 abril de 2014.