
A narrativa do “golpe”, da perseguição ao Partido dos Trabalhadores e de que o ex-presidente Lula seria um preso político e não um político preso, definha a cada acontecimento. A ONU (Organização das Nações Unidas) não reconheceu os recursos do líder petista contra sua prisão e o acampamento que o acompanha em Curitiba está cada dia menor, apesar dos esforços do partido para mantê-lo. Desmentindo a tese da perseguição, já existem encarcerados políticos importantes de outros partidos e, agora, um tucano de relevância – o ex-governador de Minas, Eduardo Azeredo – está a caminho da prisão. Isso sem falar dos problemas de Aécio Neves e de outros líderes do partido investigados nas diferentes instâncias da Polícia, Ministério Púbico e Justiça. Para boa parte dos investigados de diferentes siglas, a prisão é questão de tempo. Até o outrora inatingível Paulo Maluf já enfrentou três meses no presídio da Papuda, está em prisão domiciliar, e acaba de receber mais uma pena.
Pela diversidade de políticos e partidos envolvidos nos crimes de corrupção, nenhum deles tem o direito de se dizer vítima de perseguição. Podem, no máximo, justificar que agiram (ilegalmente) seguindo os hábitos da época, mas isso não os exime de pagar pelos crimes. Mas, além da chamada dos políticos à responsabilidade, é preciso recuperar o respeito à legalidade por todos os segmentos da sociedade. O crime organizado tem de ser combatido exemplarmente para evitar que, através de facções ou milícias, subjugue a população que um dia foi abandonada pelo poder público. O povo, por sua vez, precisa ter garantidos os serviços que o Estado, exímio cobrados de impostos, tem a obrigação de prestar.
O país carece de grande reforma. Em primeiro lugar, o poder público tem de cumprir suas obrigações – Saúde, Educação, Trabalho, Moradia, Segurança Publica, etc – para evitar que a população necessitada fique à mercê dos exploradores que, a título de ajudá-la, a escravizam. Os detentores oficiais do poder – federal, estadual e municipal – não podem continuar tolerando a desobediência civil daqueles que usam o povo como massa de manobra e invadem terras, imóveis ou exploram serviços clandestinamente. Cada esfera do poder tem de cumprir seus deveres e não pode admitir atravessadores, pois o poder, que emana do povo, é indivisível. Ninguém que não esteja investido na delegação pública pode exercê-lo.
Infelizmente, vivemos hoje o resultado de décadas de desmandos e de tentativa de implantação de uma república sindical nos moldes bolivarianos que vigem em alguns de nossos vizinhos, especialmente na Venezuela, onde os habitantes são obrigados a fugir (inclusive para o Brasil) para não continuar passando fome. A onda moralizadora partida das apurações dos mensalões e da Lava Jato constituem apenas o começo daquilo que poderá ser um novo tempo. Teremos este ano a mais imprevisível das eleições presidenciais. Na eleição e depois delas, há que se seguir a pregação do Almirante Barroso (na Batalha do Riachuelo): o Brasil espera que cada um cumpra com o seu dever…
A hora é agora.
Colaboração de: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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Publicado na edição nº 10273, de 14 e 15 de junho de 2018.