Os impactos da atividade física sobre o déficit de atenção

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Os exercícios físicos são recomendados para todas as idades. Pessoas que cultuam o hábito esportivo normalmente têm um ganho providencial na qualidade de vida, mesmo que por poucos minutos diariamente, como uma pequena caminhada até a padaria, à igreja ou à escola. Os efeitos dessa ação sobre a pressão sanguínea, a capacidade cardiopulmonar e o sono são sensivelmente positivas, chegando a pessoa que se doa a praticar esportes, a eliminar parte dos medicamentos necessários à regularização desses fatores.
Em 2015, uma equipe de cientistas brasileiros realizou um estudo sobre o impacto da atividade física sobre crianças e adolescentes que possuem déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – transtorno neuropsiquiátrico que pode atingir entre 3 a 9% das pessoas com menos de 18 anos. Os resultados foram extremamente promissores.

O transtorno
O TDAH é uma doença crônica reconhecida pela Organização Mundial da Saúde que normalmente se manifesta na infância e que pode acompanhar a pessoa por toda a sua vida. A primeira descrição formal da doença ocorreu em 1798 e, embora tenha havido muito progresso na neurociência dessa época aos dias atuais, as causas do TDAH ainda não são completamente compreendidas.
Em termos gerais, esse tipo de transtorno compreende alguns sintomas relacionados à desatenção, hiperatividade e impulsividade provocados por genes anômalos que formatam o cérebro mudando sua estrutura química e anatômica. Além dos fatores genéticos, alguns estudos incluem os fatores ambientais – por exemplo, cenários hostis – às causas do transtorno. O fato é que o cérebro não funciona adequadamente, fazendo com que a pessoa tenha dificuldades em prestar atenção em certos detalhes, em organizar e seguir tarefas, perder objetos, não se sentir confortável em ficar parado muito tempo, não aguardar a vez de falar e se contorcer ou se remexer na cadeira, entre outros sintomas.
Existem vários medicamentos para ajudar a mitigar esses e outros os sintomas, mas a equipe de pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo chegou à conclusão de que bastam poucos minutos de atividade física intensa para que haja uma sensível melhora na concentração de crianças e adolescentes com o transtorno.

Os estudos no
Brasil e no mundo
O estudo brasileiro reuniu mais de 50 meninos e meninas entre 10 e 16 anos, dos quais uma parte tinha que correr por cinco minutos e outra parte só observava. Após a corrida, todos descansaram e na sequência realizaram um teste cognitivo. Os participantes com TDAH que se exercitaram, realizaram os testes 30% mais rápido do que aqueles que ficaram observando. Esse índice de produtividade se igualou ao índice dos participantes sem o TDAH.
Essas evidências não são de fato pioneiras, mas sim, corroboram com outros estudos internacionais sobre o assunto. Exemplo vem de pesquisadores da Universidade de Illinois nos EUA, que realizaram um estudo com duração de nove meses com alunos com TDAH praticantes e não praticantes de esportes. Observaram que as atividades físicas ajudaram os pacientes a manterem o foco, a desenvolverem a memória de trabalho e a habilidade em alternar tarefas.
Outro estudo também realizado nos EUA, este pela Universidade de Michigan, apresentou resultados positivos em um programa de exercícios de 12 semanas em relação aos índices de aprendizado em matemática e leitura, especialmente com crianças que possuíam o TDAH.
O segredo
dos impactos
Não existe um único ponto de explicação sobre o cenário positivo das atividades físicas em pacientes com TDAH. Entre outras, as sugestões dão conta de que essas atividades podem mudar a quantidade de neurotransmissores liberados pelo cérebro, podem aumentar o fluxo sanguíneo em determinadas regiões cerebrais, bem como fortalecer os vasos sanguíneos e sua estrutura, permitindo o aumento da atividade cerebral principalmente em partes responsáveis pelo pensamento, planejamento, comportamento e emoções.
Embora os estudos e experimentos continuem, com tantas evidências científicas fica difícil não acreditar que as atividades físicas sejam boas aliadas ao tratamento do TDAH, evidentemente sempre com o indispensável acompanhamento médico. Portanto, não deixe para amanhã a caminhada que pode fazer hoje. O negócio é movimentar-se já.
E para quem tem interesse no assunto, não deixe de consultar o site https://tdah.org.br/.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição 10400, de 5, 6 e 7 de junho de 2019.